Conforme uma pesquisa realizada pelo Infojobs, empresa que desenvolve soluções em tecnologia para RH, a percepção negativa em relação à maternidade persiste para a maioria das mulheres no mercado de trabalho. Segundo o levantamento, 86% das entrevistadas relataram sentir que o tema é frequentemente visto de maneira desfavorável no ambiente profissional.
Da amostra, 52% são mães ou responsáveis pelos cuidados de alguma criança. Destas, 74% dizem que deixou ou ao menos pensou em deixar de lado o trabalho para cuidar dos filhos. Além disso, 41% admitiram ter receio de contar ao superior sobre a gravidez e 43% afirmaram ter sofrido algum tipo de preconceito ou descrédito durante ou após a gestação. A professora universitária e consultora jurídica com expertise em resolução de conflitos, Camila Linhares, conversou com o Edição do Brasil sobre o assunto.
Existe alguma maneira de combater esse problema?
A falta de inclusão pode ser combatida com mais mulheres mães em postos de liderança. Além de contratações e promoções de gestantes e com crianças pequenas, licença-maternidade e paternidade estendida, incentivo a amamentação através de espaços apropriados para retirada do leite, e auxílio financeiro para subsidiar “rede de apoio” após esse período, por exemplo, o auxílio creche.
Quais são os principais pontos que transformam a maternidade como algo “negativo” ao mercado de trabalho?
Os desligamentos após a licença-maternidade, ausência de promoções, reprovações em processos seletivos em decorrência do estado gestacional ou por ter crianças pequenas, e necessidade de ausência do trabalho em algumas prioridades dos filhos, como médico ou atividade escolar específica.
Em 2023, segundo a pesquisa, 94% das mulheres acreditavam que o tema era visto de forma negativa no mercado profissional. Em 2022, era 86%. Você acredita em alguma melhora neste tema para os próximos anos?
Sim, tendemos a ter mais mulheres mães em posições de liderança, com as premissas da Environmental, Social and Governance (ESG) incorporada nas organizações, tendo maior representatividade das minorias. E para melhorar a percepção precisamos, sem clichês, adotarmos empresas com gestão humanizada.
Quais seriam as mudanças necessárias nas empresas para alterar essa percepção das mulheres?
Melhoria na flexibilidade de jornada de trabalho; possibilidade de home office em determinados cargos; e a consciência que a produtividade não está ligada necessariamente ao tempo do funcionário disponível, e sim, a motivação e acolhimento.
A regulamentação da licença paternidade seria uma ação necessária para reverter essa situação?
Sim, com a regulamentação damos um passo para o início da isonomia de tratamento entre gêneros no mercado de trabalho, já que a ausência não seria somente da mãe, pois, permite que o pai tenha disponibilidade de tempo para se dedicar integralmente aos afazeres da execução de atividades de um recém-nascido. Consequentemente, tende a desenvolver consciência sobre a importância e o desgaste físico dos cuidados que requer um bebê.
No entanto, é importante salientar que para além da regulamentação da licença, são necessárias campanhas corporativas e de políticas públicas trazendo a conscientização que o período disponível para licença tem um fim específico, que é executar as atividades da paternidade, e não se trata de férias fora do período de concessão.
Qual é o impacto dessa falta de inclusão para a vida profissional das mulheres brasileiras?
O impacto da falta de inclusão resulta em podar sonhos, inibir ambições e restringir as mulheres no mercado de trabalho. Vemos mães que por necessidade da subsistência das suas famílias, necessitam abrir mão da presença na criação dos seus filhos por precisarem dedicar a maior parte do tempo a um trabalho árduo, vinculado a uma sociedade que perpetua a visão que a mulher tenha filhos, mas não a acolhe quando se torna mãe.