Home > Economia > 59% dos brasileiros preferem o trabalho autônomo ao CLT

59% dos brasileiros preferem o trabalho autônomo ao CLT

Foto: Freepik.com

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 59% dos brasileiros têm preferência pelo trabalho autônomo. Por outro lado, 39% dos participantes afirmaram se sentir mais confortáveis atuando como empregados em uma empresa. O estudo indicou ainda que, desde 2022, aumentou de 21% para 31% o percentual de pessoas que priorizam um salário mais alto, mesmo sem registro formal.

Em contrapartida, aqueles que preferem estar contratados via CLT, apesar de ganhar menos, diminuíram de 77% para 67% no mesmo período. O número de entrevistados que não souberam responder permaneceu em 2% tanto em 2022 quanto na pesquisa atual.

A inclinação pelo trabalho autônomo está presente em todas as idades, com destaque entre os mais jovens. Na faixa dos 16 aos 24 anos, 68% preferem atuar por conta própria, enquanto 29% demonstram preferência por empregos formais. Já entre os entrevistados com 60 anos ou mais, 50% optam pelo trabalho independente e 45% pelo vínculo empregatício.

Para muitos, a resposta está ligada a uma palavra-chave: liberdade, essa visão tem se tornado cada vez mais comum. Trabalhar por conta própria, mesmo com incertezas e sem garantias, é encarado como uma forma de se livrar da rigidez dos empregos tradicionais e ter maior controle sobre a própria vida.

“Estamos vivendo um momento em que as pessoas, especialmente os jovens, não querem mais apenas um emprego, mas, propósito, flexibilidade e qualidade de vida. O modelo CLT ainda é muito engessado e, em muitos casos, mal remunerado. Isso faz com que as alternativas, mesmo precárias, pareçam mais atraentes”, afirma a economista Marcela Andrade.

Mas os motivos para a migração em massa para o trabalho informal ou autônomo não se resumem apenas à busca por liberdade. Há uma série de fatores estruturais que dificultam o acesso ao emprego formal, especialmente entre os mais jovens, mulheres e pessoas de baixa escolaridade.

“Temos um mercado de trabalho que exclui muitas pessoas, especialmente em regiões mais pobres e entre populações marginalizadas. A informalidade, nesse contexto, não é uma escolha, mas a única alternativa possível para sobreviver. Além disso, a precarização das relações trabalhistas, intensificada pela reforma trabalhista de 2017 e pelas mudanças recentes nas leis de terceirização, reduziu a atratividade do emprego formal. A segurança oferecida pelo regime CLT parece cada vez mais ilusória diante de baixos salários, longas jornadas e poucas perspectivas de crescimento”, destaca.

Marcela explica que ao mesmo tempo, o discurso do “empreendedorismo como solução” tem sido amplamente promovido por governos, instituições financeiras e influenciadores nas redes sociais. “A ideia de que qualquer pessoa pode ser seu próprio patrão e fazer o próprio salário tem seduzido milhões de brasileiros. No entanto, empreender não é fácil, especialmente em um país com alta carga tributária, pouca assistência técnica e grandes desigualdades sociais”.

Ela destaca que a ausência de políticas públicas eficazes de fomento ao emprego formal e ao microempreendedorismo sustentável aprofunda a precarização. “Não basta estimular as pessoas a serem autônomas, é preciso criar condições reais para que elas prosperem com segurança e dignidade”.

Para a consultora de Recursos Humanos Karine Soares, apesar de parecer uma tendência irreversível, a preferência pelo trabalho informal ou por conta própria pode ser equilibrada com um fortalecimento do regime CLT, desde que sejam feitas mudanças estruturais. “O primeiro passo é valorizar o trabalho formal, não apenas do ponto de vista legal, mas também simbólico. O trabalhador CLT precisa ser valorizado pela sociedade, por que hoje é visto como alguém preso a um sistema ultrapassado, quando na verdade está protegido por direitos históricos, como férias, 13º salário, FGTS e aposentadoria”.

A crescente preferência dos brasileiros por formas alternativas de trabalho é um reflexo das transformações econômicas, sociais e culturais do país. “Se por um lado aponta para um desejo legítimo de autonomia, por outro, revela falhas profundas na estrutura do mercado formal de trabalho. Para que o regime CLT volte a ser valorizado, especialmente pelas novas gerações, é necessário repensá-lo de forma inteligente, tornando-o mais compatível com os desejos de flexibilidade, mobilidade e bem-estar, sem abrir mão das conquistas trabalhistas”, conclui.