
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma enfermidade neurodegenerativa progressiva que afeta as células nervosas do cérebro e da medula espinhal. Segundo o Ministério da Saúde, sua incidência é de cerca de 2 casos por 100 mil habitantes por ano. Embora rara, a doença compromete a capacidade do corpo de controlar os músculos, levando à paralisia e, eventualmente, à morte. Mesmo com os avanços da medicina, ainda há muito a ser desvendado sobre suas causas e formas de tratamento.
Segundo a neurologista Camila Borges, a ELA se caracteriza pela degeneração progressiva dos neurônios motores, que são as células responsáveis por controlar os músculos voluntários. “Sem estímulo nervoso, os músculos enfraquecem, atrofiam e param de funcionar. Ao longo do tempo, a pessoa perde movimentos simples, como segurar objetos ou caminhar, até chegar a funções vitais como respirar e engolir”.
Apesar de muitas pesquisas, as causas da patologia ainda não são completamente conhecidas. Aproximadamente 90% dos casos são classificados como esporádicos, ou seja, sem origem hereditária identificável, os outros 10% são familiares, herdados geneticamente. “O que sabemos é que múltiplos fatores genéticos e ambientais podem contribuir para o surgimento da doença. Em casos familiares, mutações em genes estão frequentemente envolvidos, já nos casos esporádicos, há evidências de que exposição a metais pesados, pesticidas, traumas cranianos repetitivos e até infecções virais possam estar relacionados ao desencadeamento da doença, mas nada é conclusivo”, explica.
Os primeiros sintomas podem ser sutis e variam de paciente para paciente. “Os mais comuns incluem fraqueza muscular localizada, geralmente nos braços ou pernas, e dificuldade para realizar tarefas rotineiras como abotoar uma camisa ou subir escadas. Câimbras e contrações involuntárias (fasciculações) também são sinais frequentes. Uma das grandes dificuldades é que os sintomas iniciais são inespecíficos e podem ser confundidos com outras doenças neuromusculares”, ressalta Camila.
“À medida que a doença avança, os pacientes perdem progressivamente a força muscular em todo o corpo, incluindo os músculos respiratórios, o que representa um risco de vida. A fala, a respiração e a deglutição tornam-se cada vez mais difíceis, o que pode resultar em desnutrição. Curiosamente, os sentidos (visão, audição, tato), o controle dos esfíncteres e as funções cognitivas permanecem preservados na maioria dos casos”, explica o fisioterapeuta Renato Lacerda.
A enfermidade não possui um exame específico para diagnóstico, o processo é clínico e envolve a exclusão de outras doenças com sintomas semelhantes, destaca a neurologista. “Exames como ressonância magnética, eletroneuromiografia (ENMG), Estudo de Condução Nervosa (NCS) e testes genéticos podem ser solicitados. Quanto mais cedo a descoberta, maiores as chances de iniciar medidas de suporte ao paciente. A ELA ainda não tem cura, mas o tratamento tem como objetivo retardar a sua progressão e melhorar a qualidade de vida”.
Além dos medicamentos, Lacerda relata que o suporte multidisciplinar é essencial. “Fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia e cuidados paliativos são pilares do tratamento. O uso de dispositivos auxiliares, como cadeiras de rodas, sondas de alimentação e ventilação mecânica não invasiva, também são recursos importantes. Os especialistas elaboram um plano terapêutico individualizado, com intervenções voltadas para aprimorar a mobilidade, a nutrição e a função respiratória”.
Não há uma forma específica de prevenção, no entanto, hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, prática regular de exercícios físicos e evitar exposição a agentes tóxicos, são recomendações universais para a saúde neurológica. Para os casos familiares, aconselhamento genético pode ser uma ferramenta importante.