Se seu filho está tentando montar um jogo e não consegue juntar as pecinhas, você: 1) não hesita em encaixar os objetos para ele, 2) deixa que ele tente por um tempo, até dá algumas dicas, mostra como ele pode montar e depois pede para que ele faça para conferir se ele aprendeu, 3) apenas observa, afinal, o brinquedo é dele e ele precisa aprender sozinho a jogar. Se você respondeu 1 ou 3, tenho uma notícia para você: superproteger, ou dar permissividade demais ao seu filho, pode ser prejudicial para seu desenvolvimento.
É o que explica a psicóloga especialista na área de Saúde da Criança e do Adolescente, Soraia Sena. “A superproteção gera uma grande irritabilidade na criança. Faz com que ela se feche, não questione certas atitudes dos pais e não interaja com eles. Com isso, ela tende a fazer o contrário do que eles pedem. Já a permissividade, faz com que a criança não seja contida e com que haja um desamparo de limites. Ela acredita que pode tudo e isso vai fazer com que ela se torne inconsequente”.
A psicóloga aponta que é importante os pais acharem um equilíbrio. “A criança também é um sujeito pensante, que precisa ser respeitado. Isso é um processo. Desde sempre os pais devem acostumar os filhos com uma rotina. Hora de tomar banho, comer e dormir. Quando ela for crescendo, dentro do estilo daquela família, ela começa a desenvolver o desejo de fazer as coisas do jeito dela, é quando chega a hora dos pais trabalharem as opções”.
Soraia acrescenta que os responsáveis devem dar autonomia para seus filhos, porém, é preciso supervisão. “A criança pode ter liberdade de escolha, por exemplo, a roupa que quer vestir, desde que esteja de acordo com a temperatura. Para isso, os pais podem pegar algumas opções e estimular que ele escolha a partir daí o que quer. Isso faz com que ela entenda o que é certo e errado. Além de obedecer e ter limites. Um outro ponto, é que ela vai criando confiança e se torna um adolescente esperto, que sabe se comunicar dentro e fora de casa”.
Sim ou não?
A autonomia da criança parte da autoridade moderada dos pais, mas, para muitos, é difícil dizer “não”. A balconista Marta Gonçalves, mãe de Larissa de 5 anos, conta que tem dificuldade em negar algo. “Às vezes quando ela me pede uma balinha antes do almoço, digo que não, ela faz aquela carinha que convence qualquer um. Fico com dó e acabo cedendo. Sei que não é certo, mas tenho medo dela ficar triste comigo ou coisa assim”.
A psicóloga aponta que, hoje, existe uma crise de autoridade nas famílias. “Se a gente vai em um lugar público, sempre vemos crianças soltas e os pais sentados, sem nem prestar atenção no que seus filhos estão fazendo. E isso é um erro, porque é preciso diálogo e não dar a criança tudo o que ela quer, ou deixar com que faça o que bem entender. Quanto mais cedo iniciar esse processo, melhor, porque com a modernidade, as crianças estão ficando cada vez mais espertas”.
A presidente do Comitê de Primeira Infância da Sociedade Mineira de Pediatria, Laís Valadares, explica que os pais tem muito receio de dizer não, e que isso é um erro. “Tudo é uma questão de regras. E quem insere isso na vida de uma criança são os pais. É preciso entender que permitir o filho escolher as coisas, é diferente de deixá-lo mandar. O não também representa amor e é preciso usá-lo, às vezes, para pôr limites e condições”.
Futuro de sucesso
Uma criança autônoma tem grandes chances de se tornar um adulto bem sucedido. “A criança vai se tornando independente dos pais, de uma forma positiva. Ela se tornará uma pessoa segura em relação as próprias capacidades”, explica a presidente.
A psicóloga Soraia Sena acrescenta: “A pessoa cresce com uma autoestima satisfatória e será capaz de confiar em si própria, se tornando um adulto pleno, completo afetivamente e profissionalmente. Além de ser grato pela educação que recebeu”.