Dados do Ministério da Saúde mostram que cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil e 77% delas têm acesso ao tratamento que é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2020, foram registrados 32,7 mil novos casos, sendo a maior parte (52,9%) entre indivíduos de 20 a 34 anos. Desse total, 69,8% são homens e 30,2% mulheres. Os números revelaram que houve uma redução de 25% em relação a 2019, quando foram detectados 43,3 mil ocorrências.
O vírus da Aids assombrou a década de 1980, afinal, a doença era pouco conhecida e cercada por estigmas. Receber o diagnóstico poderia ser considerado uma sentença de morte. Após quatro décadas, o tratamento evoluiu e novos medicamentos garantem mais qualidade de vida as pessoas que convivem com o HIV. O que não mudou na sociedade é o preconceito contra os soropositivos. O infectologista Rodrigo de Souza acredita que isso aconteça por pura falta de conhecimento. “Existem alguns mitos em torno do HIV/Aids que precisam ser combatidos. Não é possível pegar por meio do compartilhamento de talheres, copos, vaso sanitário, roupas, nem mesmo o beijo, suor ou picada de inseto”.
Ele explica que a principal forma de transmissão é pela relação sexual sem proteção, responsável por quase 90% dos casos no mundo inteiro. “Pode ocorrer por meio do sexo vaginal, anal ou oral, embora este último tenha uma chance muito pequena. A infecção também acontece pelo uso de seringa por mais de uma pessoa, transfusão de sangue contaminado e pelo uso de instrumentos não esterilizados que furam ou cortam. É possível passar o vírus também durante a gravidez e no momento do parto e amamentação”.
O médico afirma que muitos não sabem que há diferença entre HIV e Aids. “O primeiro é o vírus com o qual a pessoa é contaminada. Existem dois tipos mais comuns que são o HIV-1 e o HIV-2. Ele pode permanecer por vários anos incubado sem se manifestar, mas, na maioria dos casos, a enfermidade quase sempre vai se desenvolver. Já a Aids é a doença, sendo o estágio mais avançado após a infecção. É importante esclarecer que nem todos que têm o vírus HIV possuem Aids”.
Sem preconceito
O advogado Felipe Corrêa foi diagnosticado com HIV em 2015. “Eu estava namorando um rapaz e, depois que terminamos, os amigos dele estavam comentando que ele poderia estar infectado. Fiquei um pouco desesperado e pedi para uma amiga ir junto comigo fazer o teste. Quando recebi o resultado positivo foi um choque para mim, chorei muito e fui amparado por uma psicóloga”, relembra.
Ele conta que, desde então, faz uso constante dos medicamentos antirretrovirais. “No começo tive muitos efeitos colaterais, mas, hoje em dia, já me acostumei e levo uma vida bem normal. Os exames já mostram que estou indetectável. O maior problema é o preconceito, principalmente, para conseguir namorar. É difícil contar para as pessoas que sou soropositivo, pois elas costumam se afastar por medo”
Prevenção
A melhor forma de prevenção é a conscientização, principalmente entre os mais jovens sobre a importância do uso da camisinha em toda relação sexual. Além de evitar o HIV/Aids, também impede a contaminação de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Segundo o infectologista, o ideal é aguardar 30 dias após a relação desprotegida para realizar a testagem. “Chamamos isso de janela sorológica. É o intervalo de tempo decorrido entre o contato com o vírus até a primeira detecção de antígeno ou anticorpo produzido pelo sistema de defesa do organismo”, diz.
Caso a pessoa tome consciência de que viveu uma situação de risco, seja por relações sem preservativo, rompimento da camisinha, violência sexual ou acidentes ocupacionais, Souza orienta buscar atendimento de saúde para fazer a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). É um recurso emergencial e deve ser iniciado o mais breve possível, preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição e no máximo em até 72 horas. “A profilaxia deve ser realizada por 28 dias e a pessoa tem que ser acompanhada pela equipe médica, inclusive, após esse período realizando os testes necessários”.
O SUS oferece os exames para diagnosticar o vírus sem custo algum. Tanto os laboratoriais quanto os testes rápidos detectam os anticorpos contra o HIV em até no máximo 30 minutos. Eles podem ser feitos nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).
Tratamento
A Aids não tem cura, mas os tratamentos existentes são eficazes. “É feito com o uso de antirretrovirais que impedem a multiplicação do vírus HIV e evitam o enfraquecimento do corpo humano. Quando seguidos corretamente, há uma melhora da qualidade de vida do paciente. Normalmente, o especialista indica uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais”, explica o infectologista.
No Brasil todos os antirretrovirais são distribuídos gratuitamente pelo SUS desde 1996. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo medicamento para o tratamento de HIV que combin a d u a s diferentes substâncias em um único comprimido: os antivirais lamivudina e dolutegravir sódico. O novo remédio poderá ser prescrito para o tratamento completo da infecção pelo vírus em adultos e adolescentes acima de 12 anos com pelo menos 40 kg.
Em nota, a agência apontou que “a aprovação representa um avanço aos portadores do vírus que causa a Aids, já que reúne em uma dose diária dois antirretrovirais que não estavam disponíveis em um só comprimido. A possibilidade de doses únicas simplifica o tratamento e a adesão dos pacientes”. Ainda não há informações a respeito de como o medicamento será oferecido aqui no Brasil.