Para maior parte das pessoas pode soar estranho, mas foi com tranquilidade que o comerciante Joaquim Reis, 63 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de próstata há 3 anos. Mantendo o hábito de ir ao médico todo o ano, foi alertado. “De repente, meu médico achou que minha próstata estava muito grande e pediu a biópsia, então constatou que dos 20 e poucos fragmentos, um estava comprometido”. Reis não está sozinho. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), são previstos 68 mil casos de câncer de próstata para 2018.
Diferente de Reis, ir ao médico regularmente ainda é um tabu para maioria dos homens brasileiros, o que torna o preconceito o maior desafio na luta contra a doença. “Todo homem, a partir dos 45 ou 50 anos, conforme histórico familiar, deve procurar o médico para fazer os exames de toque e de dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA), usados para identificar alguma alteração na próstata. Quando o problema é detectado no início, as chances de cura vão de 80% a 90%”, explica o urologista Pedro Romanelli, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em Minas.
O câncer de próstata é o tumor mais comum em homens, a partir dos 50 anos. Com o aumento da expectativa de vida e, consequentemente, com maior quantidade de homens chegando à velhice e vivendo por mais tempo esse número tende a aumentar. “Existe, inclusive, uma ideia de que, se os homens pudessem viver até os 120 anos, todos teriam câncer de próstata. A doença está naturalmente associada ao processo de envelhecimento masculino”, afirma Romanelli.
O sintoma mais comum é não ter sintoma. “O câncer de próstata é uma doença silenciosa, normalmente, as pessoas não sentem nada, por isso, a importância de fazer o preventivo. Os negros, especialmente, têm maior incidência desse tipo de câncer, mas no Brasil é difícil determinar isso, porque toda a população têm um pouco de descendência africana”.
No geral, ter uma vida saudável previne a doença. “Infelizmente, 25% das pessoas com câncer de próstata acabam morrendo por causa das fases avançadas da doença. O câncer de próstata também está relacionado à obesidade, tabagismo e pouca atividade física”, explica o presidente da SBU.
Tabu masculino
Dentro dos consultórios, Romanelli percebe que os grandes temores da retirada da próstata são a incontinência urinária (bexiga solta) e uma piora da parte sexual. “A próstata compõe o aparelho reprodutor do homem, cuja finalidade é produzir o esperma. Portanto, o paciente deixa de poder ter filhos e não vai mais ejacular, apesar de ter a sensação do orgasmo e voltar a ter vida sexual normal. Em pacientes jovens, fazemos o congelamento de espermatozoides, para que ele possa ter filhos depois”, esclarece.
O aperfeiçoamento da técnica da retirada da glândula também é uma boa notícia. “Já é possível a realização de cirurgias para o tratamento do câncer de próstata, com a utilização de plataforma robótica. A tecnologia, largamente utilizada em países da Europa e nos Estados Unidos, vem se espalhando aos poucos pelo Brasil”.
Romanelli explica ainda que, no Brasil, a técnica começou a ser utilizada em São Paulo e está disponível em Belo Horizonte desde o ano passado. Recentemente, a versão mais moderna do robô cirúrgico, o Da Vinci Xi, também chegou à cidade. É o segundo do mesmo modelo em operação no país.
Final feliz
A retirada da próstata por meio da cirurgia robótica foi a opção escolhida por Reis. “Fiquei com a bolsa apenas uma semana, a incontinência durou uns 20 dias. Procurei uma especialista, que passou exercícios para ensinar a controlar e com 2 meses de fisioterapia estava totalmente curado. Vivo muito bem, graças a Deus”, comemora.
De 6 em 6 meses, o comerciante vai ao médico e recomenda: “Falo por mim, como foi descoberto precocemente, a chance de cura era quase de 100%. Se a pessoa deixa para depois, as chances diminuem. É por isso que os homens morrem mais que mulheres, por causa desse preconceito”.