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Racismo no esporte

Estamos no século 21, as tecnologias mais avançadas a cada dia, as pessoas andando mais rápido, e o tempo, nem sela, uma correria, mas um assunto que era para terminar no mundo é o racismo. Todos nós somos iguais perante a Deus, seja na cor, gênero e credo. Mas, no esporte a situação está preocupante, todo dia acontece um fato de torcedor xingar jogador com palavras e gestos de racismo, e o que não podemos acreditar é que jogador também tem feito isso em campo, com companheiro de profissão. Triste realidade.

O racismo soa como uma espécie de antijogo. Com ofensas racistas, o objetivo de torcedores e, até de próprios atletas no gramado, é inferiorizar e desestabilizar o adversário. Já que pela bola não seja possível levar a melhor, com uma jogada criminosa, ataca-se o adversário via verborragia racista. Com efeito, se o jogador negro ganhar, pode ser rebaixado por seus méritos; se ele perder, pode ser humilhado por suas falhas. O curioso é que nesse meio o racismo mostra sua efetividade, pois tudo acaba diluído na temperatura do jogo. Torcedores, jogadores, e, até mesmo muitos atletas negros, não enxergam o racismo nas competições de futebol, mas tão só dissabores do espetáculo.

Infelizmente, o racismo é parte da história do futebol. No Brasil, por exemplo, o esporte surgiu elitista e racista no final do século 19, ainda na esteira da abolição da escravatura. São conhecidas as histórias de exclusão e discriminação de jogadores negros nos primórdios dos times brasileiros. Todavia, a bola foi se tornando paixão nacional e, gradativamente, jogadores pretos e pobres foram driblando as barreiras. Aliás, o esporte se tornou uma possibilidade de ascensão social para jovens negros. Daí, nos dias de hoje, os jogadores negros e pardos são a maioria nas equipes do país, mas mesmo assim são alvos do racismo. Em recente pesquisa do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, ficou apurado que 41% dos jogadores das principais competições do país foram vítimas de ofensas racistas.

É fato. Embora seja meio de inserção social, o futebol ainda é marcado pelo racismo. Em campo ou fora dele, o atleta negro precisa driblar discriminações até se destacar. Ressalta-se que, apesar da maioria dos jogadores no Brasil ser negro ou pardo, ainda ocupar o posto de técnico de futebol é exceção.

Entretanto, política, religião e futebol não se discutem, segundo a expressão popular. Por qual motivo não se discute? Talvez porque poucos estejam dispostos a discutir as idiossincrasias da política, religião e futebol. Ora, é melhor não tratar de golpes na política, de extremismos na religião e de racismo no futebol. Não se pode insurgir contra o racismo no futebol, ainda mais quando seus profissionais são bem pagos para simplesmente jogar bola.

Há papéis sociais atribuídos positivamente aos negros e um deles é o de jogador de futebol. Nessa imagem, o futebolista negro é visto como um objeto de entretenimento, logo não lhe cabe assumir postura contestatória. Portanto, falar de racismo no futebol não é parte do jogo. A questão é que há futebolistas que escolhem enfrentar as injustiças e encaixar o racismo também como assunto de futebol. No passado e no presente, tais personagens simbolizam que, por meio do esporte, pode se jogar contra o racismo.

Por fim, atos racistas não podem ficar dissolvidos em meio a dribles, gritos de gol, emoções das torcidas e conquistas. O racismo, no campo ou fora dele, é crime e deve ser tratado como tal pelas autoridades, jogadores, torcedores, imprensa e interessados no esporte. Do contrário, violências étnico-raciais persistirão no mundo da bola. Fica a pergunta: a situação vai continuar ecoando em tom de revolta para além das quatro linhas do campo. Até quando?