A proporção da população na extrema pobreza no Brasil terminou 2023 em 4,4% e a pobreza com 27,4%, são os menores níveis já registrados pela Síntese de Indicadores Sociais, pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice da extrema pobreza era 6,6% em 2012 e 5,9% em 2022. Entre os dois últimos anos da pesquisa, 3,1 milhões de pessoas deixaram de ser extremamente pobres.
Já em relação à pobreza, o número era de 34,7% em 2012 e de 31,6% em 2022. Entre 2022 e 2023, 8,7 milhões de pessoas deixaram de ser pobres. Para debater o assunto, o Edição do Brasil conversou com o professor de Ciências Sociais da Uniarnaldo Centro Universitário, Luciano Gomes dos Santos.
Quais foram os fatores que levaram ao declínio desses índices?
A queda dos níveis da pobreza de 2012 até os anos mais recentes foi impulsionado por uma combinação de fatores econômicos, políticas sociais e programas de redistribuição de renda, além de uma expansão de direitos sociais e melhorias nas condições de vida das populações mais vulneráveis.
Segundo a pesquisa, as maiores vítimas da pobreza e extrema pobreza são as mulheres, negros e jovens. Por que esses grupos são os mais vulneráveis?
As mulheres, especialmente as negras, enfrentam uma dupla ou tripla discriminação, com base em gênero, raça e classe social. Os negros, que correspondem a uma parcela significativa da população em situação de pobreza, sofrem com o legado do racismo estrutural, que se traduz em exclusão social, desigualdade educacional, discriminação no mercado de trabalho e baixa renda. Já os jovens, especialmente aqueles de famílias de baixa renda e oriundos de periferias urbanas ou áreas rurais, enfrentam dificuldades no acesso ao mercado de trabalho formal e à educação de qualidade.
Apesar do recuo, dados mostram que 58,9 milhões de pessoas ainda vivem na pobreza, enquanto 9,5 milhões estão na extrema pobreza. que precisa ser feito para diminuir esses índices?
É fundamental adotar uma abordagem multifacetada, que envolva tanto políticas públicas de longo prazo quanto ações emergenciais. Primeiramente, é crucial investir na qualificação educacional e na expansão do acesso à educação, especialmente para as populações mais vulneráveis. Além disso, é imprescindível promover a geração de empregos de qualidade, com foco na formalização do mercado de trabalho e na melhoria das condições, como o aumento do salário mínimo, a redução da informalidade e a ampliação dos direitos trabalhistas.
Quais são as principais dificuldades do poder público em resolver essa situação?
Uma das principais dificuldades é a falta de recursos financeiros para implementar políticas públicas eficazes em larga escala. Embora o Brasil tenha programas sociais relevantes, a capacidade do governo de expandir e fortalecer esses programas é limitada por questões fiscais, como a alta dívida pública e o baixo crescimento econômico. Além disso, há uma grande desigualdade regional no país, o que torna a implementação de políticas públicas ainda mais desafiadoras.
Em 2022, os benefícios sociais respondiam por 42,2% do rendimento domiciliar dos mais pobres. Qual é a importância desse artifício para a essa população?
A importância dos benefícios sociais é crucial, principalmente porque eles desempenham um papel essencial na sobrevivência econômica e no enfrentamento da desigualdade social. Em 2022, quando os benefícios representavam 42,2% do rendimento domiciliar dos mais pobres, ficou evidente como essas transferências são fundamentais para garantir uma renda mínima às famílias em situação de vulnerabilidade, permitindo que elas atendam suas necessidades básicas, como alimentação, moradia e acesso a serviços essenciais.
Analisando o momento atual, você acredita que a tendência são esses números continuarem em declínio?
A tendência de declínio não é completamente garantida e vários fatores podem influenciar o curso dessa trajetória. Por um lado, o país tem enfrentado desafios econômicos significativos. Por outro, o fortalecimento das políticas sociais, nos últimos anos, tem um impacto direto na redução da pobreza. No entanto, o sucesso a longo prazo dependerá da sustentabilidade fiscal do país, da estabilidade política e da capacidade do Estado em implementar reformas estruturais.