Os casos confirmados de dengue têm sido bastante elevados nas primeiras semanas de 2024, com 11.490 casos e uma morte em Minas Gerais, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG). Houve alta de 31,9% comparado com o mesmo período de 2023, quando 8.711 notificações foram confirmadas e três óbitos.
No início deste ano, Patos de Minas passou a adotar o lançamento de mosquitos que possuem uma tecnologia biológica para combater a própria espécie, fazendo o controle da população de fêmeas, transmissoras das doenças. A ação foi realizada nos bairros Jardim Esperança e Nossa Senhora Aparecida. As duas regiões, que contam com 3.773 imóveis, receberam cerca de 350 Caixas do Bem distribuídas em 75 hectares de área urbana.
De acordo com a secretária municipal de Saúde, Ana Carolina Magalhães Caixeta, a iniciativa tem o objetivo de diminuir os focos de transmissão da doença. “Pensando que o Aedes aegypti vem se mostrando adaptável às mudanças climáticas e que temos cada vez mais casos de dengue e outras doenças por ele transmitidas, essa é mais uma estratégia da Prefeitura de Patos de Minas no combate ao mosquito. O ‘Aedes do Bem’ une tecnologia e saúde para obtermos resultados mais eficazes em conjunto com as medidas convencionais aplicadas no nosso dia a dia”.
Como funciona
Desenvolvida pela empresa inglesa Oxitec, a solução inovadora e sustentável chamada “Aedes do Bem” é uma tecnologia que libera Aedes aegypti machos autolimitantes, que não picam e não transmitem doenças. O produto é composto por uma caixa reutilizável e refis contendo os ovos de mosquitos.
Para a instalação das caixas, os Agentes de Endemias passaram por treinamento e fazem as trocas dos refis a cada 28 dias nos locais instalados. A solução é bastante simples e fácil de usar. Os ovos do “Aedes do Bem” se desenvolvem dentro de uma caixa, ativada com água limpa. Quando os machos atingem a fase adulta, voam da caixa para o ambiente urbano, procuram ativamente e acasalam com as fêmeas do Aedes aegypti, que picam e são responsáveis pela transmissão de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Deste cruzamento, apenas os descendentes machos sobrevivem e chegam à fase adulta, herdando dos pais a característica autolimitante que confere a capacidade larvicida fêmea-específica. O resultado é a queda do número de fêmeas que picam e transmitem doenças, e, consequentemente, o controle populacional direcionado do Aedes aegypti.
A diretora da Oxitec Brasil, Natália Ferreira comentou que ficou satisfeita com a parceria entre a companhia e o município. “Ter a possibilidade de implantar a solução em Patos de Minas é motivo de muita alegria e a oportunidade de alcançarmos mais municípios do estado. Minas Gerais mais uma vez sai na frente ao adotar uma solução inovadora, sustentável e altamente eficaz para o controle desse mosquito que transmite a dengue e tantas doenças”.
96% de supressão do mosquito em cidade paulista
As liberações de mosquitos “Aedes do Bem” em áreas urbanas densamente povoadas e afetadas pela dengue em Indaiatuba, no interior de São Paulo, levaram à supressão significativa da população de Aedes aegypti local em até 96%. O estudo, que foi publicado na revista científica Frontiers in Bioengineering and Biotechnology e revisado por pares, testou a liberação de mosquitos machos “Aedes do Bem” em comunidades densamente povoadas do município.
A infestação de Aedes aegypti foi monitorada nessas regiões durante o período e sua presença no ambiente foi comparada com populações de outros bairros que não receberam mosquitos machos “Aedes do Bem”. Durante o pico da temporada (novembro de 2018 a abril de 2019), as populações do Aedes aegypti em áreas tratadas foram suprimidas entre 88% e 96% em relação às áreas não tratadas.