Conforme levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a taxa de juros elevada passou a ocupar o primeiro lugar no ranking de principais problemas para os empresários da construção há um ano. No terceiro trimestre de 2023, essa dificuldade foi apontada por 32,7% deles, o que corresponde a uma queda de 8,1 pontos percentuais frente ao período anterior.
A economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos, esclarece que a taxa de juros elevada prejudica não somente a indústria da construção, mas toda a economia do país. “Ela direciona um maior volume de recursos para o mercado financeiro e desestimula os investimentos produtivos, justamente os que geram mais emprego e renda. A construção civil é penalizada com a perda de recursos de uma das principais fontes de financiamento imobiliário, que é a caderneta de poupança”.
A elevada carga tributária foi o segundo problema mais citado, com 27,8% das assinalações, queda de 0,5 ponto percentual frente ao trimestre anterior. O número de empresas que identificaram falta ou alto custo de trabalhadores qualificados cresceu, atingindo 23,3% das assinalações e ficando em terceiro lugar no ranking de principais problemas.
Desempenho recua em setembro
Ainda de acordo com a pesquisa, o desempenho da indústria da construção piorou em setembro, com queda do nível de atividade e do emprego. O índice do nível de atividade registrou 46,2 pontos, queda de 2,5 pontos quando comparado com agosto.
Ieda ressalta algumas causas que ajudam a justificar essa menor intensidade das atividades da construção. “A taxa de juros que ainda está muito elevada, mesmo com o início do seu processo de redução, e as dificuldades do Programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, cujas modificações somente começarão a produzir resultados mais no final do ano”.
A economista ainda pontua que, atualmente, a CBIC estima que o setor vai registrar um incremento de 1,5% em suas atividades. “A redução da projeção de 1%, em relação ao índice apresentado no início do ano, aconteceu porque se esperava a diminuição dos juros ainda no primeiro semestre, assim como os ajustes no ‘Minha Casa, Minha Vida’. Esses fatores contribuíram sensivelmente para a perda de dinamismo setorial”.
Minha Casa, Minha Vida
Para Ieda, certamente as novas condições do Programa Minha Casa, Minha Vida devem trazer dinamismo ao mercado imobiliário de padrão econômico. “A maior atividade no setor significa mais emprego e renda. É importante destacar que esse segmento ficou muito prejudicado nos últimos anos e a forte elevação dos gastos na construção contribuiu muito para isso. Desde julho de 2020 até setembro de 2023, a despesa com materiais e equipamentos, conforme o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC), aumentou 51,87%, o que inviabilizou a construção de moradias com as condições anteriores”.
Ela salienta também que, nesse mesmo período, o indicador oficial da inflação no país, que é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aumentou 25,82%. “Por isso, as alterações, como o aumento do valor máximo do imóvel que poderá ser adquirido pelos beneficiários do referido programa, é um dos fatores que gera expectativa positiva”.
Setor em 2024
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Renato Michel, revela que a expectativa do setor para o ano que vem é boa. “Porque a retomada do ‘Minha Casa, Minha Vida’ atrasou em 2023 e só vai começar acontecer em 2024. Então, só o resgate desse programa já é uma notícia espetacular. Há alguns anos, 50% do número de lançamentos era desse projeto, nos últimos meses, esse índice caiu para 30%. Então, o ‘Minha Casa, Minha Vida’ encolheu e os outros setores, de média e alta renda, acabam suprindo essa lacuna”.
“Com a volta do programa, a gente acredita que esses números podem melhorar e teremos um crescimento muito significativo, que vai acontecer fortemente em 2024. Além disso, existem as obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que devem aquecer o mercado”, complementa.