Segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF), a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu cerca de 58% entre os anos de 2017 e 2021. Os dados mostram que a população recorre de forma progressiva aos fármacos em situações relacionadas à saúde mental. Além disso, de acordo com levantamento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% dos cidadãos.
Ainda conforme relatório da OMS, antes da pandemia de COVID-19, mundialmente, cerca de 193 milhões de pessoas eram portadoras de transtorno depressivo e 298 milhões de indivíduos tinham transtornos de ansiedade em 2020. Após a crise sanitária, as estimativas iniciais mostram um salto para 246 milhões para transtorno depressivo e 374 milhões para transtornos de ansiedade.
O farmacêutico André Lima explica como os medicamentos agem no organismo. “Alteram o que chamamos de mediadores químicos, substâncias responsáveis pelos estágios de humor. A dopamina e a serotonina, por exemplo, são importantes neurotransmissores. Problemas como depressão e ansiedade afetam a função dos mediadores químicos, e as drogas agem modulando a produção desses mediadores com o objetivo de estabilizar o estado emocional do paciente”.
Segundo ele, por agirem diretamente no sistema nervoso, os antidepressivos e ansiolíticos devem ser utilizados com cuidado. “Eles vão funcionar primeiro no cérebro, onde existem receptores específicos. Esses remédios funcionam promovendo a inibição do cérebro e reduzindo a ansiedade por meio de neurotransmissores”.
A psiquiatra Daniela Andrade alerta que o uso de medicamentos requer atenção. “O apoio medicamentoso é uma ajuda importante para superar os desafios de relacionamento social que muitas vezes são prejudicados pelo estresse do dia a dia e pela pressão que vivenciamos profissional e emocionalmente, porém, o acompanhamento médico é de vital importância para que as pessoas tenham uma recuperação segura e eficaz. Todos esses medicamentos só podem ser adquiridos com prescrição médica e acompanhamento de profissionais da saúde”.
Ela afirma que os antidepressivos ou ansiolíticos podem causar dependência nos pacientes se forem utilizados de forma indiscriminada. “Quando a produção dessas substâncias no organismo muda, ele tenta se reequilibrar respondendo à droga, porque é um elemento estranho ao nosso corpo. A dependência passa por várias mudanças nos mecanismos biológicos do corpo”.
Também é válido mencionar os fatores sociais e culturais, em especial da sociedade brasileira. “É o uso abusivo e, muitas vezes, desnecessário de medicamentos que pode causar um desequilíbrio no organismo. Isso vai provocar o fenômeno que nós chamamos de dependência”, aponta.
Daniela conclui afirmando que é possível investir na prevenção para evitar o uso de remédios. “É necessário que a população busque formas de cuidar da saúde mental, além dos medicamentos, procurando ter uma rotina benéfica com exercícios, alimentação saudável, acompanhamento psicológico, hobbies e se cercar de amigos e/ou familiares”.