As autoridades encarregadas de comandar o projeto do propalado Rodoanel, obra de cem quilômetros na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão conscientes da necessidade de promover debates mais proativos com as prefeituras envolvidas no tema, especialmente Betim e Contagem, cujos solos estão sendo previstos a planta da aludida construção dessa nova via.
Como empecilho ao projeto, semana passada, a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), anunciou a discussão e implementação de um novo Plano Diretor de seu município, com o objetivo de preservar, entre outras coisas, o extenso lago de Várzea das Flores, fonte de abastecimento de milhares de residenciais em toda a região. Com esse novo instrumento delimitando o uso do solo, a prefeita tem o propósito de chamar o governo do Estado, responsável pela construção, a se pronunciar sobre um novo desenho por onde será erguida a nova passarela do transporte metropolitano.
Vem de longa data a peleja no sentido de encontrar alternativa para minimizar o excesso de veículos circulando pelo atual Anel Rodoviário, já saturado, depois 50 anos de funcionamento. Essa via, que no passado foi uma solução, hoje é um pesadelo e palco de desastres horripilantes, além de constantes engarrafamentos, proporcionado cenas fortes, com acidentes e vítimas fatais.
Para resolver essa empreitada foi feito um acordo com a Vale, usando dinheiro de indenização paga pela empresa como reparação, tendo em vista o acidente da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, cujo dinheiro servirá para custear dois terços do valor da obra do Rodoanel. Até aí, tudo certo, mas autoridades alegam que o tema foi discutido apenas na cúpula, ou seja, na Justiça, Ministério Público e no governo de Minas, executor deste certame. Outros agentes públicos ficaram de fora do processo, especialmente os prefeitos e vereadores, para debater o assunto de maneira mais límpida, sobretudo, a respeito do impacto da obra.
Inclusive, agora, quando Contagem propõe a proibição do uso e ocupação do solo, na extensão de 105,69 km², relativamente à bacia hidrográfica da Várzea das Flores, se fundamente no fato de que o lago existe há mais de 50 anos, cresceu e hoje significa 5,5 km², com produção de 1.400 litros de água por segundo, abastecendo 12 cidades do entorno. Na defesa desta tese, a municipalidade pontua que se a obra for levada a efeito, atendendo o atual projeto, irá provocar sérios problemas no fornecimento de água.
O Rodoanel é um projeto vitrine do governador Romeu Zema (Novo). Pelo roteiro de agora, o problema da circulação de veículos na região será resolvido nos próximos anos. Mas, paralelamente, pode estar alentando o surgimento de outro dilema, pois, o abastecimento de milhões de pessoas, além de atendimento às atividades comerciais, pode ser um desafio iminente, diante das observações feitas pela prefeita Marília Campos.
Está posto o desafio na mesa do chefe do Executivo mineiro. É evidente que, caso não seja adotada uma medida equilibrada, analisando o conjunto das circunstâncias, o governador Zema como titular do governo estadual, poderá ser cobrado no futuro pela própria história.