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Evasão escolar atinge 500 mil jovens acima de 16 anos

Foto: Freepik.com

 

A evasão escolar amplifica as desigualdades sociais e impacta a economia brasileira. Dados coletados da pesquisa “Combate à Evasão no Ensino Médio: desafios e oportunidades” mostram que a evasão escolar atinge mais de 500 mil jovens acima de 16 anos por ano. No Brasil, apenas 60,3% completam o ciclo escolar até os 24 anos. Entre os mais pobres, o número dos que concluem o ensino médio é de 46% contra 94% dos estudantes mais ricos.

Também segundo o estudo, cada aluno que deixa de completar o ensino médio gera um prejuízo de R$ 395 mil para si e para a sociedade brasileira. Para discutir sobre o assunto, o Edição do Brasil conversou com o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Eduardo Magrone.

Qual a diferença entre abandono e evasão escolar?

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o abandono seria caracterizado pela interrupção do ano letivo por parte do estudante e retorno dele no ano seguinte por meio de uma nova matrícula na série em que ele havia abandonado. A evasão seria caracterizada pela interrupção e não retorno ao sistema educacional.

Quais os principais motivos para que a evasão aconteça na maioria dos casos?

Dentre as causas externas à escola, aparecem a necessidade precoce de dividir o tempo entre trabalho e estudos, dificuldade de acesso, alimentação, tempo para estudos extraclasse, desinteresse e gravidez na adolescência. Entre os fatores internos estão o ambiente escolar, falta de autoridade dos professores, alta rotatividade dos docentes, precariedade das instalações, falta de equipamentos necessários para as aulas e a adoção de métodos e técnicas de ensino inadequados ou antiquados.

A maioria dos casos acontece com crianças e jovens de baixa renda e negros?

Sim. Isto pode ser checado nas estatísticas educacionais produzidas pelo Censo Educacional. Além disso, há as avaliações em larga escala, como a Prova Brasil, o Sistema Avaliação da Educação Básica (SAEB), para a educação básica, e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), para o nível superior. A análise dos dados dos questionários contextuais de algumas dessas avaliações exibe um contexto preocupante de racismo, classicismo difuso e institucionalizado que “empurra” os estudantes negros e pobres para fora da escola.

Alguns sinais podem ser notados pelos professores antes que um aluno abandone a escola?

Sim. A infrequência e o baixo desempenho sucessivo nas avaliações são uma indicação muito clara de que o aluno não está envolvido com os desafios de aprendizagem da escola. Há também comportamentos menos frequentes, mas muito significativos para efeito de monitoramento do abandono e da evasão, tais como muita indisciplina, conversas paralelas e bullying, que merecem mais atenção da escola e da família.

Quais podem ser as consequências da evasão?

Uma delas é o enorme desperdício de recursos educacionais, quando se trata dos sistemas públicos de educação. Grande parte do custeio e dos investimentos são perdidos com o crescimento da evasão e do abandono escolar. Porém, as consequências mais dramáticas estão dirigidas aos próprios estudantes evadidos que, em um mercado de trabalho cada vez mais precarizado, veem o seu poder de barganha junto a esse mesmo mercado ficar mais enfraquecido.

A Secretaria de Educação divulgou uma cartilha com detalhes sobre o Plano de Enfrentamento ao Abandono e à Evasão Escolar. Você acredita que a medida vai funcionar?

A cartilha é uma iniciativa legítima, mas não sei se será eficaz. Irá depender do tipo de uso que os agentes educacionais farão dela. Se for concebida como mais um documento burocrático, pouco ou nada irá influenciar. A cartilha foi muito bem escrita e aborda as ações possíveis para lidar com o resultado de um processo, mas não aborda os determinantes desse resultado.