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Da bola. da SAF. da Liga

O futebol brasileiro anda muito mais movimentado fora das quatro linhas do que dentro. No gramado, o nível técnico é mediano, com poucos craques de verdade, poucas revelações, muita transpiração e pouca inspiração. No passado não tão distante, cada time mostrava, no mínimo, uns seis jogadores talentosos, bons de bola. De uns tempos para cá, encontrar um já é grande achado. Vários são nomeados como joias, mas não passam de simples bijuterias. O que vale mesmo é o marketing. Vender o garoto bem depressa, antes que sua bola murche.

Até mesmo a Seleção Brasileira, outrora poderosa, deixou de ser a grande estrela das competições. Vai se transformando em uma seleção comum. Um amontoado de jogadores milionários que vivem em outras terras. Praticam um futebol estranho, robotizado, bem longe da ginga, do improviso e da alegria do nosso verdadeiro futebol. Perdeu o respeito e o carinho de boa parte dos torcedores, em especial das novas gerações.

Enquanto isto, fora das quatro linhas, o pau quebra. Dirigentes, empresários, investidores e curiosos se lançam no mercado correndo atrás da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). É a grande novidade, a solução para todos os males do bolso e do cofre. Todo mundo quer comprar um time. Seja pequeno, médio ou grande.

Segundo especialistas, ao se transformar em SAF, o dinheiro jorra forte no caixa. O clube praticamente falido vira uma mina de ouro. A dívida é quitada, o patrimônio é salvo, investidores são bem remunerados e ainda sobra para montagem de bons elencos.

É um milagre que precisa virar realidade. Nossos times sofrem demais com administrações sem competência ou fraudulentas, com parcerias esquisitas, com projetos mirabolantes de transformação em empresa e outras picaretagens. Todos estão no fio da navalha e com a corda no pescoço. Vendendo o almoço para comprar a janta e vice versa. Ao que parece, a SAF é a única saída para que o clube não entre definitivamente na rota da insolvência total.

Ao mesmo tempo, dirigentes dos 40 principais clubes do Brasil, classificados nas séries A e B, se organizam para criação de uma liga. Pauta antiga, mas que sempre é lembrada e discutida. A ideia da liga é se responsabilizar pela organização das competições e, principalmente, assumir a comercialização de tudo. Direitos de transmissão, patrocínios, venda de bilhetes, produtos, serviços e muito mais. É um mercado gigantesco e valioso.

Alguns consórcios multinacionais já apresentaram suas propostas. Oferecem dinheiro graúdo para adesão dos clubes. Negócio para deixar dirigente sem dormir de tanto piscar em cifrão. Aí que mora o problema. Os clubes estão cada vez mais divididos. Formam vários blocos, cada um querendo ganhar mais do que o outro. Reuniões e reuniões são realizadas e a coisa não anda. De longe dá para observar duas situações. Ou falta mesmo consenso entre os dirigentes ou tudo não passa de balão de ensaio para arrancar mais dinheiro dos investidores.

De qualquer forma acredito que o projeto da liga vai acabar saindo do papel. Pode demorar um pouco mais ou um pouco menos. É um caminho natural. Com os principais clubes virando SAF, a organização das competições, necessariamente, terá que se profissionalizar e mudar de patamar. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não fala nada. Deve estar observando do alto o que pode acontecer.

Tomara que todas estas boas iniciativas ajudem nosso futebol a melhorar dentro do gramado, inclusive os próprios gramados. Precisamos investir pesado, principalmente na base. Criar oportunidades para o surgimento de talentos, pois o celeiro é farto. Somente assim vamos voltar a ser o melhor futebol do mundo. Alegria do povo.