A desigualdade social é um problema antigo no Brasil, enquanto uns possuem muito, para outros faltam direitos básicos. No país, a organização Oxfam calcula haver, atualmente, 55 bilionários, com uma riqueza total de US$ 176 bilhões. Ainda de acordo a pesquisa, a miséria e a fome cresceram exponencialmente durante a pandemia. Em dezembro de 2020, 55% da população brasileira se encontrava em situação de insegurança alimentar, o equivalente a 116,8 milhões de pessoas.
Para falar sobre o assunto, o Edição do Brasil conversou com o doutor e professor de economia do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero.
Por que a distribuição de renda é desigual?
É desigual porque é inerente a países capitalistas que adotaram um modelo de crescimento concentrador de rendas. O Brasil cresceu fortemente até o final dos anos 1970, mas esse avanço se deu de forma muito concentrada e não houve o processo de distribuição de renda, o que gerou uma desigualdade profunda.
Quais são os principais problemas que a desigualdade social pode causar em uma nação?
Desencadeia uma polarização do país do ponto de vista social, porque você tem de um lado uma elite com padrões de consumo que causam inveja, e ao mesmo tempo, temos rincões de pobreza, com pessoas que não têm acesso ao básico da cidadania, como educação e saúde de qualidade, que permitiria em médio e longo prazo reduzir essa desigualdade.
Como a pandemia impactou diretamente e indiretamente nessa questão?
A pandemia de COVID-19 piorou a situação, embora o auxílio emergencial tenha conseguido mitigar uma parte do problema, mas a questão é que a gestão da época demorou a agir. A postura negacionista fez com que se atrasasse a chegada desse recurso para a população mais pobre, que não possuía uma poupança para enfrentar o isolamento social.
O que falta para que o Brasil reduza os índices de desigualdade social?
Falta vontade, nós temos políticas que foram descontinuadas nos últimos anos. No governo de Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT), tivemos uma redução da desigualdade no país. Nas várias políticas sociais adotadas estavam por exemplo, o programa Luz para Todos, o Bolsa Família, o Mais Médicos, dentre outros. Nos últimos 6 anos, muitas dessas ações foram destruídas, e agora nos primeiros 100 dias de governo Lula algumas estão retornando. Precisamos transformar isso em política de estado e não apenas política de governo.
Quais são as consequências de não combater a desigualdade?
As consequências são que as pessoas acabam de alguma maneira se aprofundando em um espiral de revolta. O Brasil é um país extremamente violento, excluindo as polarizações políticas, existe uma tensão social muito forte. Isso é um subproduto de uma realidade profundamente desigual de um ponto de vista socioeconômico.
A questão racial tem grande influência na desigualdade social do país?
A questão racial é clara, quando analisamos qualquer estatística de rendimentos, de acesso aos principais cargos de comando de empresas e de violência, a população negra é a mais afetada. São aqueles que mais são vítimas de ações policiais, de preconceito e que têm menos acesso à universidade. Existem políticas voltadas para isso, por exemplo, as cotas raciais, mas elas são criticadas pelos brancos da elite que não admitem que negros possam ter a ascensão econômica e social.