
Segundo um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), fatores como imprevistos relacionados à saúde, falecimentos, manutenção da residência ou do veículo (19%) e a ausência de controle financeiro (17%) foram apontados como causas da inadimplência. Já 15% dos entrevistados relataram redução na renda, enquanto 14% atribuíram o problema ao aumento excessivo dos preços.
O consumo por impulso e a falta de planejamento estão entre os principais motivos que levam ao endividamento. Entre aqueles que ficaram com contas em atraso por má gestão do orçamento, 43% admitiram que aproveitaram uma promoção sem verificar se havia espaço nas finanças. Outros 23% disseram ter realizado a compra movidos pelo desejo de adquirir determinado produto ou serviço, acreditando que, se esperassem, levariam muito tempo para consegui-lo. Já 19% revelaram que estavam emocionalmente fragilizados e gastaram como forma de compensação.
“Esse padrão de consumo impulsivo e emocional se intensifica com o uso das redes sociais, pois o consumidor passa a ter acesso constante às lojas e à possibilidade de comprar a qualquer momento. Além disso, é constantemente exposto a anúncios personalizados, o que dificulta a resistência”, explica a especialista em finanças da CNDL, Merula Borges.
Quanto à ordem de prioridade no pagamento de contas, os entrevistados apontaram como compromissos essenciais: internet (73%), água e energia elétrica (68%), telefone (65%), TV por assinatura (59%) e plano de saúde (48%). Por outro lado, 77% dos inadimplentes afirmaram que quitar dívidas comprometerá o pagamento dessas despesas básicas. Para Merula, esse dado reflete a desorganização financeira enfrentada por boa parte da população.
“Se o pagamento de uma dívida compromete as necessidades básicas, é sinal de que a pessoa provavelmente não conseguirá cumprir o acordo. E isso dificulta ainda mais sair da inadimplência. Às vezes o consumidor fica aflito para resolver a situação, mas pode ser mais vantajoso esperar um pouco, juntar mais recursos e buscar uma negociação melhor, evitando ter novamente o nome negativado”.
Inadimplência cresce
Dados do Indicador de Inadimplência da CNDL/SPC Brasil indicam que, em março, 69,66 milhões de brasileiros estavam com o nome negativado, alta de 1,54% em relação a fevereiro. Na comparação com março de 2024, a alta foi de 3,89%. Em média, cada inadimplente devia R$ 4.604,54. Os bancos lideram a lista de credores, respondendo por 66,74% do total. Em seguida, aparecem as contas de água e luz (9,87%), o comércio (9,73%) e outras dívidas (8,02%).
Segundo Merula Borges, a inflação é um dos principais responsáveis pela elevação da inadimplência, mesmo em um cenário de desemprego reduzido e aumento da renda. “No caso dos alimentos, por exemplo, o impacto no orçamento das famílias de menor renda é ainda maior, reduzindo a margem disponível para quitar dívidas. Além disso, a taxa de juros elevada dificulta não só o acesso ao crédito, mas também o pagamento de empréstimos antigos, contraídos em períodos com a Selic mais baixa”.
De acordo com Merula, a inflação e os juros altos também têm dificultado a efetividade de programas como o Desenrola Brasil, lançado em julho de 2023. Um mês após sua implementação, o país ainda somava 66,8 milhões de inadimplentes. Ela defende que a solução passa por um conjunto de medidas. “É necessário promover um ajuste fiscal para controlar a inflação e reduzir a Selic e investir em educação financeira. Os consumidores precisam estar atentos, ter renda e conseguir administrar melhor seus recursos”.
Como reorganizar as finanças
A consultora financeira Loren Mendes destaca que sair do endividamento depende de três fundamentos essenciais: organização, controle e disciplina. “O primeiro passo é levantar todas as receitas e gastos, categorizando os custos com moradia, saúde, alimentação, lazer, entre outros. Esse diagnóstico é indispensável para verificar se os rendimentos cobrem as despesas. Caso contrário, será necessário ajustar os valores, cortando excessos, aumentando a renda ou realizando ambas as ações”, orienta.
Loren reforça que é fundamental registrar os gastos e manter-se dentro de um limite previamente estabelecido. Para evitar decisões impulsivas, ela recomenda adiar a compra por pelo menos um dia, refletir sobre a real necessidade do item desejado e ponderar se é melhor esperar e adquirir com segurança. “Planejar valores para lazer e imprevistos dentro do orçamento mensal ajuda a manter o equilíbrio”, conclui.