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Violência física contra jornalistas cresceu 88%, segundo a Fenaj

Foram registrados 376 episódios de agressões aos profissionais, ataques à categoria e a veículos de comunicação. – Foto: Pixabay

De acordo com relatório elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2022, os jornalistas ainda sofrem com a violência dirigida à categoria, em razão do exercício profissional. As ameaças/hostilizações/intimidações cresceram 133,33%, saltando de 33 para 77 ocorrências. As agressões físicas passaram de 26 para 49, 88,46% a mais do que em 2021. Os impedimentos ao trabalho da imprensa cresceram 200%, foram sete casos contra 21, no ano passado.

Ao todo, foram registrados 376 episódios de agressões aos profissionais, ataques à categoria e a veículos de comunicação. Houve uma queda de 12,56%, em relação às registradas em 2021, que foi o ano mais violento para os jornalistas brasileiros, com 430 ocorrências. Em 2019, foram 208 casos, 54,07% a mais do que os 135 episódios de 2018. No ano de 2020, houve uma verdadeira explosão nos números de incidentes, 428. Para entender mais sobre esse assunto, o Edição do Brasil conversou com Alessandra Mello, presidenta do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais.

Esses ataques aos jornalistas enfraquecem a imprensa no Brasil?

Não acho. A imprensa segue forte no país. O setor continua tendo a importância, a relevância e a credibilidade, e essa violência é uma tentativa de enfraquecer e de silenciar, mas não conseguiram. Seguimos nossa luta firme e forte, exercendo a nossa profissão e colocando em prática um direito constitucional, que é a informação.

Como essas agressões afetam a sociedade?

A violência contra jornalistas é um ato contrário à sociedade e à democracia, porque ela ataca algumas condições básicas, como a da informação, da liberdade de expressão e de imprensa. Um dos indicadores que mede a democracia é justamente a liberdade de expressão, essa agressividade tenta cercear esse direito e o trabalho da imprensa. Isso é um problema grave, não só para o profissional, mas para a toda a população. E tem que ser olhado como tal, com a gravidade que ela representa, pois esses ataques são uma tentativa de impedir o contraditório, dificultar que quem esteja no poder seja questionado, e isso afeta a comunidade como um todo.

O que esses dados representam para os jornalistas?

Os dados dessas agressões mostram uma coisa assustadora, que é o crescimento da violência física, que aumentou 88%, isso é muito grave. Os profissionais estão apanhando na rua, tem casos absurdos, como de jornalistas que quase foram linchados, agredidos com golpes de capacete na cabeça e etc. Isso mostra que a gente está em uma escalada de violência e que precisa ser contida de todas as maneiras, porque um trabalhador está sendo impedido de exercer o seu ofício com tranquilidade.

Quais medidas o poder público e/ou entidades podem realizar para diminuir esses números?

O poder público tem que investigar e aplicar as penalidades. Algumas medidas já estão sendo tomadas pelo governo federal, por exemplo, já foi criado o Observatório Nacional da Violência contra Jornalistas. O que os sindicatos e a federação querem é que todos esses atos sejam punidos, investigados e acompanhados pelas autoridades para que essas pessoas, que praticam essa violência, sintam no bolso, o rigor da legislação.

Qual é a importância de o profissional denunciar essas agressões?

As entidades de classe sabem que esses registros da violência são menores do que de fato acontecem. Eles são subnotificados, porque muitas vezes o jornalista fica constrangido, não quer se expor, não quer virar notícia, teme ser perseguido e, algumas vezes, não tem respaldo da empresa que ele trabalha. Então, é muito importante que todas as denúncias cheguem às entidades para que possamos acompanhar, monitorar e ter dados mais fiéis, principalmente no interior do país. Por isso, é muito importante que o profissional, que sofre algum tipo de violência, denuncie.

Os jornalistas de TV representam 41,03% do total de vítimas. Por que eles são os mais atingidos por essa violência?

Hoje é muito mais fácil identificar um jornalista de televisão do que um de impresso, por exemplo. O fotógrafo e o repórter cinematográfico precisam da imagem, então, ostensivamente são mais identificados.

Na violência por estado, Minas Gerais aparece em 8º lugar, com 10 casos. Foi criada alguma medida para evitar essas ações?

Minas Gerais não criou nenhuma medida para proteger os jornalistas e não dá para gente dizer que aqui tem mais segurança do que em outro estado, a qualquer hora esses números podem mudar. No começo do ano, por exemplo, nove profissionais foram agredidos. Então, se continuar assim, a gente chega, em 2024, no topo do ranking.

Como é a atuação do sindicato referente a esses atos de violência?

O sindicato luta para que as ações sejam investigadas, porque muitas vezes uma agressão contra um jornalista é caracterizada como lesão corporal leve. Então, o processo é encerrado antes de dar sequência e isso é muito ruim. Porque não é só uma lesão corporal leve, é um atentado à democracia, à liberdade de expressão e ao direito à informação, tem que ter um olhar mais apurado das autoridades para fatos como esse. O que o sindicato quer e vem tentando é criar um canal direto para poder fazer a denúncia. O jornalista agredido faz a comunicação nessa ferramenta e a partir disso, a gente pode acompanhar o caso, para que a pessoa que cometeu essa violência responda na Justiça.