A pesquisa TIC Kids Online Brasil apontou que 93% das crianças e adolescentes do país, entre 9 e 17 anos, acessam a internet, o que corresponde a cerca de 22,3 milhões de pessoas conectadas nessa faixa etária. No entanto, o ambiente digital pode ser um lugar perigoso para esse público, visto que podem ser vítimas de cyberbullying, criminosos ou até mesmo expostos a materiais inapropriados. A utilização da web pelos filhos deve sempre ser supervisionada pelos pais ou responsáveis. Para falar sobre o assunto, o Edição do Brasil conversou com a advogada especialista em Direito Digital e Privacidade e Proteção de Dados, Maria José Ciotto Lucas.
Quais são os principais perigos para crianças e adolescentes que acessam a internet sem a supervisão dos pais?
Um dos mais comuns e que pode causar danos graves no desenvolvimento dos jovens é o cyberbullying, praticado por meio de ambientes virtuais. Ele ocorre com intensidade aumentada, pois o agressor se sente protegido pela tela do seu equipamento, seja smartphone, computador ou tablet. É importante a orientação dos pais ou responsáveis aos filhos para que situações assim sejam informadas de imediato e eles possam tomar atitudes protetivas. Outro risco são os “challenges”, ou seja, desafios propostos pelas redes sociais, que atraem muitas crianças e adolescentes e, infelizmente, podem levar à morte. Recentemente, tivemos o caso de uma garota de 10 anos, nos Estados Unidos, que faleceu ao participar do desafio de quem conseguia segurar a respiração por mais tempo. Também há crimes graves que ocorrem por meio da internet em que os bandidos utilizam nomes e perfis falsos, na maioria das vezes, mentindo a idade, para obter a confiança dos menores e cometer sequestro e pedofilia.
Como preservar a segurança nas redes sociais?
Conversar com os filhos sobre os perigos a que estão expostos e acompanhá-los nessas interações. Aconselhar para que não aceitem convites de amizade de desconhecidos e qualquer situação que lhes cause desconforto seja comunicada aos responsáveis. Orientar para que não enviem fotos íntimas para ninguém da rede social, além de informar se foram convidados por algum estranho da web para encontrá-lo em algum local. Os pais devem evitar expor a rotina e os hábitos da família, colégio em que os filhos estudam e lugares frequentados, pois essa revelação é propícia para a prática de crimes.
Há uma idade recomendada para que os responsáveis deixem a criança usar a internet?
Crianças e adolescentes estão em desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, e isso deve acontecer em condições de liberdade e dignidade, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Até os dois anos de idade não se recomenda nenhuma exposição à internet. Dos 3 aos 6 anos, o uso deve começar a ser acompanhado pelos pais. Nessa fase, os pequenos se interessam pelos joguinhos, desenhos infantis e estão testando suas capacidades. Já dos 7 aos 12 anos estão descobrindo sua participação social, com maior interação com amigos pela internet. Os responsáveis precisam continuar supervisionando e estipular um limite de tempo para utilização. A partir dos 13 anos, o adolescente já possui mais autonomia, desenvolvendo competências e preferências. Eles apresentam um distanciamento parental, contudo, os cuidados dos pais devem permanecer.
De que maneira os pais devem gerenciar a relação dos jovens com a web?
A administração da relação das crianças e adolescentes com a internet pode ser exercida de várias formas. Passa por questões técnicas, como configurar o navegador do equipamento para impedir o acesso a certos websites, até a própria orientação e conversa franca entre pais e filhos. É necessário ainda definir um tempo máximo de uso, conforme a faixa etária, assim como ter um antivírus instalado para evitar a perda de dados e o acesso não autorizado às informações pessoais dos filhos. Ao utilizar o equipamento, devem ser criadas senhas longas e fortes, evitando combinações fáceis como “12345”. Além disso, habilitar as configurações de controle parental sempre que disponível nos sistemas operacionais. Elas permitem que os pais recebam notificações de aplicativos baixados, tenham acesso ao histórico e configurem filtros de navegação.
Qual a importância da educação digital?
Assim como no mundo físico, onde os jovens são educados para o convívio social, serem responsáveis e cuidar de seus pertencentes, no mundo virtual, a educação digital é igualmente importante e necessária. Os pais ou responsáveis, juntamente com a escola, dentro de sua competência, devem abordar com as crianças e adolescentes os temas relacionados ao ambiente digital e sobre o uso responsável das tecnologias.