A neuralgia do trigêmeo é um quadro de dor associado ao nervo do trigêmeo, responsável por transportar informação sensitiva desde o rosto até o cérebro e controlar os músculos envolvidos na mastigação. De acordo com um estudo feito por acadêmicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Faculdade de Medicina do Vale do Aço (Famevaço), a incidência anual estimada é de 4,5 casos por 100 mil indivíduos.

Ainda conforme a pesquisa, há uma predominância da doença entre pessoas de meia-idade e acima de 50 anos. As mulheres são 60% dos pacientes, sendo mais raro o surgimento antes dos 40 anos. E os hipertensos apresentam mais chances de desenvolverem neuralgia do trigêmeo que a população em geral.

Esse é justamente o caso da professora de educação infantil, Eliana de Almeida, 46, hipertensa e que foi diagnosticada com a enfermidade há 11 dias. “A doença não foi identificada imediatamente. Os sintomas começaram há pouco tempo, com um leve incômodo no rosto do lado esquerdo e, a princípio, se confundia com uma dor de dente. Por isso, procurei um dentista, mas o profissional disse que não havia encontrado nada de errado. Fui ao posto de saúde e, por ter gripe alérgica, o tratamento indicado foi outro. Contudo, a dor apenas ficou camuflada pelo remédio, nove dias após o término da medicação, o grau foi insuportável e fez com que eu retornasse ao hospital”.

Ela acrescenta que, desde então, nunca mais parou de sentir a dor por completo. “Por mais que eu tome a medicação, sinto um leve desconforto no local, evito mastigar e, até mesmo, escovar os dentes com muita força do lado esquerdo”.

Causas

Segundo o neurocirurgião Emmanuel Sá, os motivos da neuralgia do trigêmeo podem ser variados, sendo que existem dois tipos da doença. “A primeira é a neuralgia trigeminal primária, causada pela compressão do nervo trigêmeo por uma das artérias que temos dentro do crânio. Por motivo desconhecido, ela passa a ocupar um trajeto que não fazia anteriormente e causa lesão do nervo a cada pulsação. A segunda é a neuralgia trigeminal secundária, que pode ser ocasionada por uma lesão tumoral, malformação arteriovenosa ou esclerose múltipla, por exemplo”.

Dor intensa

De acordo com Sá, o principal sintoma é a dor, já que o nervo trigêmeo transmite ao cérebro todas as sensações percebidas em nossa face. “Essa manifestação pode se dar em um ou mais ramos do nervo. Os mais acometidos são o maxilar (terço médio da face) e o mandibular (terço inferior da face). Essa dor é considerada pelos pacientes como uma das mais intensas que já sentiram na vida”.

Para o neurocirurgião, ela surge de forma súbita e pode estar associada ou não a um estímulo externo. “É comum relatarem que a dor aparece quando estão mastigando, escovando os dentes ou enxugando o rosto. Em casos mais graves, o paciente descreve que sentir o vento pode desencadear bastante desconforto”.

Eliana diz que a patologia afeta a vida profissional e pessoal. “A dor é tão forte, que não consigo nem identificar o local correto, tudo do lado esquerdo dói e, por mexer no sistema nervoso, fica difícil ser uma pessoa agradável. Contudo, meu trabalho exige muito de mim, afinal cuido de crianças. Para poder continuar tendo uma vida ‘normal’, tomo medicação de 4 em 4 horas, alternando os remédios, para que o organismo não se acostume”.

Sá ressalta que essa dor de forte intensidade e curta duração é o espectro habitual da neuralgia do trigêmeo. “Caso a pessoa tenha uma queixa semelhante, é importante procurar atendimento médico, pois isso irá diferenciar a doença de outras síndromes dolorosas orofaciais, como dores de origem dental ou herpes-zóster, por exemplo”.