Durante a crise sanitária de COVID-19, o número de desocupados atingiu seu ápice e foram registradas mais de 15 milhões de pessoas nesta condição. E, em meio a grandes dificuldades de conseguir um emprego fixo, a saída que muitos encontraram foi trabalhar de forma independente no mercado informal. Prova disso é que o número de profissionais freelancers vem crescendo, conforme levantamento feito no final de 2021 pela Closeer, plataforma que oferece vagas para autônomos. Os dados mostram que 64,58% dos entrevistados aderiram ao modelo há menos de um ano.
A coach de carreira Beatriz Carneiro salienta que o desemprego atinge, atualmente, mais de 12 milhões de pessoas. “Essa é uma das principais razões pelo crescimento do setor freelancer. Muitos não conseguem se recolocar no mercado formal e vão trabalhar por conta própria na tentativa de obter alguma renda. Entre outras razões estão os benefícios da modalidade, como a flexibilização de horário, não ter um chefe e poder trabalhar de casa fazendo o que se ama”.
Segundo ela, a atuação de um freela não precisa ser apenas de abrangência local. “Hoje, com a internet e dependendo do ramo de serviço escolhido, há a possibilidade de trabalhar para clientes de qualquer lugar do mundo. No entanto, existem alguns contras que devem ser avaliados antes de decidir entrar nesse ramo. Por exemplo, a remuneração não é fixa. Em alguns meses se fatura muito e em outros há pouca demanda. Também não tem contribuição ao INSS, 13º salário, sem falar no isolamento, já que muitos trabalham home office”, diz.
A pesquisa da Closeer revelou ainda que, para metade dos entrevistados, os trabalhos como freelas são a única fonte de renda. Com relação às vantagens da modalidade, 54% apontaram a possibilidade de aumentar os ganhos, 26,75% destacaram a chance de fazer o próprio horário, enquanto 13,31% citaram a versatilidade de funções. A flexibilidade de locais é um ponto crucial para 4,17% e a escolha de tarefas é importante para 1,61%.
Entre os entrevistados, 70,27% são do sexo feminino, enquanto 28,51% são homens. Outros 1,22% se consideram não-binários. Ainda de acordo com o levantamento, a maioria dos freelas tem entre 18 e 30 anos (36,76%). Outros 33,91% estão na faixa entre 31 e 40 anos e 21,46% têm de 41 a 50 anos.
Trabalho independente
A designer gráfica Luíza Campos, 30, atua como freela há quase 2 anos, prestando serviços de criação de artes, logomarcas e layout para sites. “Fui dispensada no auge da pandemia pela empresa onde eu estava empregada. Cheguei a enviar meu currículo para diversas outras organizações e nunca era chamada. Para não ficar parada, decidi começar a trabalhar por conta própria em um pequeno escritório improvisado no meu quarto”, conta.
No início, o mais difícil foi conseguir clientes. “Alguns já conheciam meu trabalho e me davam preferência. Precisei investir mais em divulgação nas redes sociais, sites especializados e contar também com a ajuda dos amigos e parentes. Eu também tinha dificuldade em dar preço ao meu serviço e fazer um orçamento corretamente. Com o tempo, fui aprendendo e consigo faturar uma média de R$ 3.500 mensais, valor superior ao que eu ganhava de carteira assinada”.
Ela diz que por ser freela precisa administrar bem as contas e pensar no futuro. “Nós não temos uma estabilidade financeira. Tem mês que recebo um bom dinheiro, mas no seguinte tem menos trabalho, consequentemente redução nos ganhos. Sempre guardo uma quantia de emergência e faço o pagamento do INSS por conta própria, pensando em minha aposentadoria. O valor que sobra utilizo para meu lazer”, conclui.
Vantagens da formalização
Na avaliação do economista Ricardo Fonseca, o trabalho como freela garante alguma renda em momentos de desemprego elevado. “Em compensação, a modalidade não tem benefícios e garantias. A formalização como microempreendedor individual, conhecido como MEI, é uma opção viável para os profissionais autônomos. Tudo é feito de forma on-line e o CNPJ é emitido na mesma hora”.
Ele explica que qualquer pessoa pode se formalizar, desde que a renda bruta anual não ultrapasse R$ 81 mil, uma média de R$ 6.750 mensais. “Caso isso aconteça, será preciso mudar para outro modelo empresarial. O valor que a pessoa deve pagar para ter acesso aos benefícios varia entre R$ 61,60 e R$ 66,60, dependendo da atividade da empresa. Dentre as vantagens da formalização estão a abertura de conta jurídica, facilidade de obter crédito, emissão de nota fiscal, direito à aposentadoria, auxílio-doença, salário-maternidade”, conclui.