Eles vibram e sofrem durante os 90 minutos da partida, enfeitam a casa com as cores e o escudo do time ou possuem rituais a seguir em dias de jogo. Os torcedores fanáticos fazem de tudo para demonstrar seu amor pelo clube do coração, inclusive, certas coisas que somente eles entendem. Alguns são mais contidos, mas também existem aqueles que extrapolam as emoções. A grande questão é até que ponto essa paixão é saudável e não ultrapassa os limites. Afinal, o que se passa na cabeça de um torcedor e o que leva a ser fanático por um time?
A psicóloga e especialista em comportamento humano Mariana Machado explica que ocorre um misto de sensações. “Os nervos ficam a flor da pele, alguns gritam, choram e até xingam, ainda mais se o adversário é quem faz um gol. Ninguém gosta de assistir o time do coração perder, afinal, vai precisar aguentar piadinhas dos amigos no dia seguinte ou pelos grupos de WhatsApp. Tem ainda aqueles que fazem algumas loucuras como colocar nome do jogador no filho, faltar trabalho ou escola para assistir uma partida, fazer uma tatuagem, etc”, revela.
Mariana alerta para dois tipos de torcedores: os que são mais pacíficos e os que são bem nervosos e acabam extrapolando. “Alguns aceitam bem a perda e levam numa boa. Mas todos têm que ter em mente que em um jogo haverá um campeão e um perdedor. Não existe nenhum tipo de ganho material para o torcedor. É uma relação que precisa sempre ser pautada pelo respeito para não se transformar em uma coisa agressiva e até mesmo partir para violência”.
Ela passa alguns conselhos para aqueles torcedores que se estressam fácil. “Alguns costumam passar mal e vivenciam aquela adrenalina como se fossem um próprio jogador. Muitas vezes esse estresse também pode exteriorizar outros problemas da pessoa. A ideia é ter um ambiente tranquilo e saudável para que todos possam curtir o jogo. Saber aceitar o resultado e não levar como se sua vida dependesse disso. Respire fundo, tenta se acalmar e aproveita o momento”.
Para o professor de sociologia e torcedor nato do Flamengo Diogo Pereira, culturalmente, o Brasil tem essa relação de paixão pelo futebol e uma forma intensa de torcer. “O país é o melhor do mundo nesse aspecto e temos cinco títulos mundiais, além de ser um esporte bem popular e fácil de praticar. Esse amor por determinado time não tem explicação, simplesmente acontece. Costumo dizer que a pessoa desfaz casamento, troca de carro, trabalho, mas o time do coração permanece intocado”.
Pereira afirma que existem indícios para identificar um verdadeiro torcedor. “O fanático sabe de tudo e defende o time com unhas e dentes, por mais que tenha perdido de goleada ou feito uma péssima partida. Ele tem uma grande relação com o clube e sabe a tabela de classificação, a data dos jogos, quem é o treinador, o nome de todos os jogadores, tanto os atuais como os antigos. Além de ver o jogo pela televisão, também vai ao estádio para torcer de perto, possui camisas e objetos”, afirma.
O professor conta que a maior parte da família é torcedora do Mengão. “Fui influenciado por eles. Desde pequeno quando me perguntavam qual era meu time, sempre dizia que era o Flamengo. Mas essa paixão foi crescendo aos poucos e já faz parte da minha vida. Quando tem jogo, todo mundo se reúne para assistir e fazemos aquela festa. A gente grita, torce, fica muito nervoso, ainda mais quando sai aquele gol aos 45 do segundo tempo”.
E quando o time ganha os amigos já sabem que esse vai ser o assunto da semana. “Não importa mais nada e ninguém é mais feliz do que eu com uma vitória”. Ele diz que tem algumas superstições para que o rubro-negro ganhe. “Em dias de jogo tenho todo um ritual. Uso a minha camisa da sorte e a caneca que ganhei do meu filho. Se realmente funciona não sei, mas o Flamengo quase sempre foi o campeão. A maior loucura que fiz foi mentir que estava doente só para viajar e assistir ao jogo no Maracanã”, finaliza.