Abril é dedicado à conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA), comemorado no dia 2. Diagnosticar o autismo nem sempre é tarefa fácil, já que cada pessoa é singular e não necessariamente apresenta todos os sintomas de outra. Os esforços dos pais costumam focar no desenvolvimento de habilidades na comunicação e contato visual dos filhos com TEA, mas a prática de esportes também pode ser uma opção para ganhos que vão além de habilidades motoras.
O psicólogo Celso Silva explica que o TEA é marcado pelas singularidade. “Essas pessoas apresentam dificuldade de interação social manifestado por sintomas que vão desde estereotipias (ação repetitiva no movimento, na postura ou na fala) até a um isolamento mais marcante”.
Para o psicólogo, o primeiro passo para entender e ajudar na descaracterização dos estigmas que afetam o TEA é ressignificar a concepção de “normal”. “Geralmente temos a tendência de comparar o que seria um sofrimento mental à uma concepção de ‘normalidade’. Ela está mais vinculada a um padrão de funcionamento marcadamente capitalista e desconsidera outras possíveis formas de ocupação do espaço público. As especificidades de cada sujeito não deveriam implicar em inacessibilidade aos espaços e às leis”.
Tiago Toledo, professor de educação física especializado em psicomotricidade, trabalha há 15 anos com pessoas com TEA. Ele esclarece que não existem esportes específicos para autistas. Cada pessoa vai se identificar mais e se sentir estimulada com um determinado tipo. “O que há são estratégias já que estamos falando desde alunos que quase não precisam de ajuda, os que demandam algum suporte e os que necessitam de muita ajuda”. De acordo com Toledo, novamente, é observado o perfil do aluno. “Algumas pessoas precisam de uma atenção individual antes de serem inseridas em turmas e outras trabalham melhor em esportes individuais”.
Na experiência de Guilherme Melo, instrutor de slackline na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Belo Horizonte, com alunos autistas entre 7 e 25 anos, o ganho social é maior que o físico. “Hoje, percebemos que a confiança e o trabalho em grupo cresceram. Aqueles que tinham maior dificuldade de comunicação, tanto em grupo quanto individualmente, começaram a falar mais”.
Para ele, o que chama a atenção em um de seus alunos é o perfeccionismo. “Um realiza a atividade do início ao fim, dá tchau e obrigado. Já outro, quando passo uma série de repetição, não importa se for 10 ou mil, enquanto ele não executá-la com perfeição não para. Não sei se é persistência ou perfeccionismo, mas são fiéis à meta”, destaca.
A dona de casa Alice Pereira também notou benefícios do esporte na vida de João Pedro Oliveira, 13 anos, diagnosticado com autismo aos 2 anos. Aluno da rede municipal, João participa do “Superar”, projeto da Prefeitura de Belo Horizonte que promove a inclusão social das pessoas com deficiências por meio da prática de atividades físicas.
“Ele começou a ter mais facilidade em ficar no meio das pessoas e a atenção também aumentou. Como ele toma muitos remédios controlados diariamente, a natação também ajudou ele a emagrecer”, conta a mãe sobre o filho que nada desde os 6 anos.