O povo brasileiro é, desde sempre, reconhecidamente um povo alegre. Certamente a miscigenação entre colonizadores e índios e, posteriormente, africanos, além dos imigrantes dos séculos 19 e 20, tenha formado a receita para construção dessa nossa característica tão peculiar e boa.
A CNN, há um tempo, elegeu o Brasil como um dos 12 países mais “legais” do planeta, tendo como característica principal nosso espírito alegre. Pesquisas internacionais e da Embratur vêm ao longo dos últimos anos apontando que, para mais de 50% dos estrangeiros, a alegria do povo brasileiro é o melhor do Brasil. Nosso maior patrimônio.
Os nossos poetas, cantores, escritores, roteiristas não se cansam de expor essa nossa característica. Até mesmo o Tio Sam reconheceu essa nossa peculiaridade e a imortalizou, dando enorme projeção à criação do personagem, do imortal Walt Disney em 1943, o Zé Carioca (Joe Carioca), em plena segunda guerra mundial, quando os Estados Unidos flertavam com o Brasil visando interromper a discreta, vergonhosa e inescrupulosa aliança de Getúlio Vargas com o poder alemão.
Alegria, por definição literal, é um estado de viva satisfação e contentamento. Psicologicamente é mais do que uma simples reação à um estímulo, é uma reação bioquímica do organismo. Existem estratégias inconscientes que incentivam esses mecanismos resultando nessa sensação, como sorrir, abraçar e acariciar. Elementos que, de alguma forma, contribuem para o esclarecimento dessa característica motivadora e atraente da atitude do “ser alegre”, bem como, faz a maior parte dos brasileiros, alegremente, se identificar.
Além desse aspecto individual, pessoal, interior, a alegria está diretamente relacionada a fatores externos e a resultados de estímulos. Assim, considerando a realidade atual do nosso país, é incontestável que estejamos a cada dia tendo menos motivos para estarmos alegres.
Temos atualmente, de forma inédita, um presidente denunciado duas vezes pela Procuradoria Geral da República por corrupção e, antes que se diga que é perseguição política, o Brasil assistiu este presidente sendo conivente com atos criminosos e sendo o destinatário dos milhões em propinas nas malas e caixas dos ‘Loures” e “Gedeis”. Atos e fatos que nada contribuem para o nosso estado de alegria.
A alegria do brasileiro também diminui ao ver o cinismo do Congresso em absolver Michel Temer (PMDB0 das denúncias ao custo de R$ 32,1 bilhões entre junho e outubro desse ano, em concessões e medidas negociadas desde a primeira denúncia, além do empenho de mais R$ 4,2 bilhões em emendas. Todo esse sórdido esforço realizado com nosso dinheiro e, principalmente, sem a nossa aprovação.
Apesar do discurso repleto de sofismas da equipe econômica de Temer, capitaneada pelo ministro/candidato Henrique Meirelles, na verdade, o que se vê é o déficit do estado brasileiro bater em quase R$ 160 bilhões. E, também, há uma política amparada no lado nefasto do capitalismo, que prioriza os banqueiros, proporcionando-lhes recordes inéditos de lucro, e também àqueles poucos aos quais está sendo entregue o patrimônio do Brasil por meio das privatizações, enquanto o poder de compra do brasileiro comum tristemente diminui. Essa estratégia expõe um grande contrassenso e irresponsabilidade pois, a história em especial a mais recente, nos prova que o país só tem crescimento real quando o trabalhador, a massa, a base da pirâmide detêm alguma capacidade financeira, de consumo e de ser alegre.
Essa alegria do brasileiro diminui quando vê o Senado Federal, negociado por Temer, emparelhado com a covarde e conivente Suprema Corte de Justiça, o STF, absolver o senador, comprovadamente corrupto, Aécio Neves (PSDB). Impunidade que dói na alma de todo brasileiro de bem e revolta até os mais pacíficos. Afasta nossa alegria.
Assim como alegria e felicidade se relacionam entre ter e ser, essa irresponsabilidade, esse cinismo e impunidade desse governo, além de destruir nossa alegria, tira a nossa felicidade pois, além de termos cada vez menos, somos, gradualmente, cada vez menos. Nos sentimos cada dia menores, temos cada vez menos orgulho de nós mesmos, volta aquela triste vergonha de sermos brasileiros. Vergonha por sermos injustiçados e desrespeitados como cidadãos e como nação. E vergonha e alegria não habitam o mesmo país, o mesmo povo, o mesmo coração.