Falência múltipla é para o corpo humano a condição em que diversos órgãos vitais do organismo perdem suas funções, simultaneamente, levando-o a sérias consequências, inclusive morte. Esta condição é causada por diversos fatores, como infecção, traumas, envenenamento e perda de suas funções por muitas outras razões ou motivos. É uma complicação que leva ao desequilíbrio do todo, causando estresse e perda de suas atividades próprias na tentativa de suprir as outras falhas. Quando um, ou mais órgãos, param de funcionar ou funcionam mal, de forma adequada à sua propriedade, o corpo entra em estado de desequilíbrio, o que inevitavelmente leva a sérias complicações. Na falta de uma, outras áreas lutam para compensar aquela perdida, o que cria o colapso dos demais órgãos, cada um deles responsáveis pelo perfeito e sadio corpo. É esta integração, e suas circunstâncias próprias, que levam resistência e defesas ao todo, protegendo e assegurando saúde.
Assim é nossa vida, com seus mistérios e perfeita sintonia divina. Mas, deixemos este assunto para os profissionais da saúde, os médicos, enfermeiros, seus auxiliares que tão bem exercem seus deveres, quando deles necessitamos. Falemos de outra falência: a das instituições do Estado, de nossa Pátria Mãe, gentil e tão distraída, que com sua grave e quase mortal doença institucional nos leva a severas preocupações com suas falências e desequilíbrio.
Comecemos pelo Executivo, a face mais exposta do Estado. Não precisa ser doutor para ver o quanto anda doente este organismo, inchado, excesso de peso, sem destino, perdido no tempo e no espaço, pessimamente alimentado, corroído pela corrupção, come e bebe demais, anda abusando dos prazeres, usando remédios inadequados, sobrecarrega as partes frágeis do corpo, o povo que o elegeu. Os impostos que cobra não são revertidos em favor da saúde e bem-estar do organismo que o sustenta. A gestão e cuidados com o futuro são assuntos desconhecidos e deixados a Deus dará.
O Legislativo, este sim, está bem pior do que aquele de quem deveria ser independente. Fraco demais para cumprir seus deveres, sua doença se chama fisiologismo atemporal, cumprindo deveres que deveriam ser do Executivo, esquecendo os seus, utilizando emendas impróprias, esgotando a saúde financeira do Estado e nada contribuindo para o equilíbrio geral. Sua principal doença, chama-se falta de representatividade ou a qualidade dela. Perdeu-se no caminho do que deveria ser, vive o conflito do não ser. Fala demais, tem perda de sentido, nenhuma ideia equilibrada, também manchado pela corrupção e inverdades que lhes assegurem a reeleição.
O Judiciário, última fronteira da democracia, o bastião da verdade, da honra e da dignidade, anda com a grave doença de Narciso, se achando, investigando, julgando e aplicando leis quando deveria ser o recurso dos injustiçados, defensor dos oprimidos, equilíbrio da sociedade. A guarda da Constituição, ultrapassada, tão remendada por bactérias oportunistas, foi deixada ao ataque de vírus perigosos. Atropela-se as diversas instâncias, seus procuradores se preocupam mais com o noticiário que com a busca de remédios e justo destino dos processos. Para não falar de outra grave doença, a insaciedade de proventos, alguma coisa tão distante de nossa realidade que só pode ser medida em anos luz.