Este início de ano, apesar das obrigações financeiras com IPTU, IPVA e material escolar, começou com uma boa notícia. Uma pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontou que o número de famílias que possuem algum tipo de dívida caiu para 55,6% em janeiro. O menor patamar desde junho de 2010. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a diferença é de 5%.
De acordo com a economista da CNC Marianne Hanson, as famílias estão se endividando menos, porque a taxa de juros e o custo do crédito é bem elevado. “As prestações, empréstimos e financiamentos não estão cabendo mais no orçamento. Isso também pode ser observado nos indicadores de consumo das famílias, uma vez que a demanda por bens e serviços diminuiu”.
Além da taxa de juros, Hanson acrescenta que existe outro fator importante que contribuiu para a redução. “O mercado de trabalho atualmente está numa situação desfavorável e temos a taxa de desemprego aumentando e renda das famílias caindo, ou seja, não está crescendo mais acima da inflação. Os reajustes salariais não estão mais compensando o aumento dos preços”.
A economista também acredita que esse recuo tem a ver com a crise financeira dos últimos anos. “A gente vem observando essa redução no endividamento das famílias desde o ano passado. Elas têm tido mais cautela em relação a contratação de novos empréstimos e financiamentos. Por outro lado, a oferta de crédito da instituições financeiras está mais escassa”.
O levantamento mostrou ainda que 9,3% das famílias não terão como pagar as dívidas e permanecerão inadimplentes. Em janeiro de 2016 esse número era de 9%. Hanson explica que um dos maiores vilões das dívidas é o cartão de crédito, citado por 77,3%. “A segunda modalidade é o carnê, com 14,1%, embora venha caindo ao longo dos anos e sendo substituído pelo próprio cartão. Em terceiro o financiamento de carro, citado por 10,1%”.
O perfil de endividamento também muda de acordo com a renda. “Na faixa de até 10 salários mínimos, as dívidas mais citadas são de cartão de crédito, carnê e crédito pessoal. Já para as famílias que recebem acima de 10 salários, as mais lembradas são cartão de crédito e financiamento de carro e casa”. Para não ficar no vermelho, a economista afirma que é preciso um planejamento dos gastos ao contratar um empréstimo ou financiamento.
Ela salienta que não é suficiente pensar que a prestação cabe no bolso hoje. “É preciso também pensar no futuro. No início do ano, por exemplo, temos uma série de gastos extras que se as famílias não se prepararam e acabam recorrendo ao crédito emergencial com taxas de juros elevadas, criando uma dívida. É importante analisar seus gastos em relação a sua receita”.
Para quem já está no vermelho, Hanson recomenda que a saída é renegociar. “A gente observa que muitas pessoas que tem pendências no cartão de crédito acabam acessando o crédito rotativo que tem um custo alto. O melhor é procurar substituir essas taxas caras por outras mais baratas. O que o brasileiro tem feito é usar o crédito consignado com juros mais atrativos para pagar com prazo mais longo e fazer com que a prestação caiba no orçamento familiar”.
A economista diz que não existe uma quantia mínima do salário que deve ser guardada para o pagamento da divida. “Não existe uma fórmula mágica. O ideal é que seja o menor possível, levando em conta os gastos mais importantes. Boa parte das famílias destinam a renda para o pagamento de alimentação, transporte e aluguel. Tem que ser observado o conjunto desses gastos para saber qual é a margem que existe para não comprometer a renda”, finaliza.