Os meninos nasceram para ser engenheiros, policiais, cientistas, inteligentes, valentes e bem sucedidos, certo? Mas, e as meninas? Infelizmente, muitas delas sentem que vieram ao mundo quase sem o direito de ter uma perspectiva de vida. De acordo com pesquisadores americanos, isso começa desde a infância. Os resultados do estudo foram publicados pela revista Science e apontaram que 30% das meninas de 6 e 7 anos se sentem menos inteligentes e menos brilhantes que os meninos.
Eles chegaram a essa conclusão, após uma série de experimentos com um grupo de crianças de 5 a 7 anos, idade em que os estereótipos de gêneros começam a ficar claros.
A subsecretária de Políticas para as Mulheres da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac), Larissa Amorim Borges, acredita que isso se deve ao fato das meninas serem educadas para serem submissas aos homens, uma vez que ainda vivemos em uma sociedade machista.
No estudo, podemos constatar que as meninas se sentem menos brilhantes que os meninos, por que isso ocorre?
O que acontece, é que as meninas são desestimuladas o tempo todo. Então, o fato delas se sentirem menos inteligentes e brilhantes se dá pela construção de uma sociedade que só valoriza os meninos e as posturas masculinas, tornando mais difícil para nós, mulheres, construirmos a nossa autoestima e autovalor.
Qual a importância do empoderamento feminino?
É uma identidade positiva para a mulher. E é necessário ser trabalhado desde a infância, por que a medida que a menina cresce com boas referências, com uma autoimagem positiva e autoconfiante, ela terá mais chances de desenvolver bem as atividades, tanto escolares quanto esportivas.
Além disso, se cria na mulher a confiança para se posicionar de uma forma que garanta sua integridade. Então, se são treinadas e estimuladas, assim como os homens, para se desenvolver afirmativamente, elas podem crescer mais fortes e se tornar mais autônomas, seguras e conscientes do seu valor e importância no mundo. Isso é fundamental, por que vai prevenir a violência, vários tipos de adoecimento físicos e psicológicos, problemas sociais e muitas outras coisas.
Como os pais podem trabalhar isso em suas filhas?
Dizendo para elas que são bonitas, inteligentes, capazes e dignas de respeito. É importante que elas tenham essa consciência. Além disso, certos estereótipos devem ser desfeitos. Um exemplo disso, é que homens e mulheres podem dirigir, então, por que só os meninos podem brincar de carrinho?
Existe uma série de atividades que vão auxiliar no desenvolvimento psicomotor e psicossocial das meninas. Elas precisam ser estimuladas, para que entendam seu valor e que tenham orgulho delas mesmas, façam aquilo que mais desejam e não o que o outro deseja para elas.
E os pais de meninos? Como eles devem educá-los para ajudar a promover esse empoderamento?
Os rapazes têm que crescer sabendo do valor das mulheres e que elas são dignas de respeito. Por isso, é importante que os responsáveis os ensinem a dividir os brinquedos, a não bater na coleguinha, explicar que elas podem brincar com o que quiserem e que elas também são importantes.
Em Minas Gerais, onde a cultura machista ainda está fortemente enraizada, é comum ouvirmos a frase: “Prendam sua cabra que meu bode está solto”. E isso é o extremo da falta de respeito. É criar o filho para ser um animal e não um homem. Contudo, é preciso atenção no dia a dia, hoje, muitos desenhos, livros e brinquedos estimulam todo esse machismo e é um desafio criar alternativas para toda essa cultura negativa que tornou-se comum.
Por que ainda há pessoas que acham que tudo isso é desnecessário e até mesmo “frescura”?
Devido a cultura machista que está naturalizada em todas as instituições, inclusive, na mídia e na sociedade. Em vários espaços podemos ver a reprodução dessa cultura sem nenhuma crítica, com isso, as pessoas seguem acreditando que mulher é uma propriedade do homem, é frágil e precisa ser cuidada.
Mas, ao estimular o empoderamento, nós colaboramos para o desenvolvimento da sociedade. O Brasil é um dos países onde é mais difícil nascer mulher e isso é por causa do machismo e das desigualdades sociais que intensificam nossas vidas. Consequentemente, há a construção de uma forma de convivência que deteriora as relações humanas como um todo, porque o machismo não é prejudicial só para as mulheres, mas para os homens também.
Como o machismo pode ser prejudicial aos homens?
Eles acabam sendo obrigados a manter uma certa imagem e postura. São tidos como o provedor, aquele que manda. E isso é muito negativo, porque eles ficam aprisionados nesse papel. E as mulheres, por sua vez, se veem obrigadas a serem submissas. E como consequência disso, são violentadas, assassinadas etc.
Se as pessoas levassem isso em consideração, quais mudanças veríamos na sociedade?
Todos seriam capazes de conviver com as diferenças de uma forma positiva, porque homens e mulheres são iguais em direito, mas têm características distintas como pessoa. Reconhecer isso é muito importante. A medida que a sociedade perceber isso e educar nossas crianças para respeitar a diversidade e empoderar as meninas – lembrando que isso não quer dizer ensiná-las a menosprezar o outro, mas sim reconhecer seu valor e o valor do próximo – teremos uma sociedade de pessoas mais felizes e saudáveis. Os indivíduos seriam menos agressivos e, como consequência disso, o país seria menos violento.