O Brasil registrou crescimento de 13,5% no número absoluto de mortes por acidentes de trânsito, entre 2010 e 2019. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostraram também que a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes cresceu 2,3% neste período, apontando resultados bastante frustrantes em relação à meta global estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Foram cerca de 392 mil mortes em acidentes de transporte terrestre, incluindo atropelamentos, sinistros com bicicletas, motocicletas, automóveis, caminhonetes, caminhões, ônibus, veículos de serviço e fora de estrada.
Em 2010, a ONU lançou a campanha “1ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito” para conscientizar os países a adotar medidas e reduzir em 50% a mortalidade no trânsito até 2020. O levantamento avalia as políticas implementadas e os números registrados no período.
Os acidentes com motocicletas foram os que mais pesaram para o crescimento da mortalidade e dobraram em relação à década anterior. Eles representaram 30% dos casos fatais registrados. Por outro lado, os índices de atropelamentos, acidentes envolvendo carros, ônibus, caminhões e bicicletas se mantiveram estáveis ou caíram.
A análise das mortes por faixa etária mostra que um terço são de pessoas muitos jovens (até 15 anos) e cerca de dois terços delas têm menos de 50 anos. Acidentes com motocicletas respondem por cerca de 44% dos óbitos na faixa de 15 a 29 anos. As mortes por atropelamento são responsáveis pela maior parte dos óbitos envolvendo pessoas com mais de 70 anos.
O professor de direção, Leonardo Silveira, diz que o ritmo de crescimento da população idosa expõe as pessoas dessa faixa etária ao risco de sinistros de trânsito, como motoristas e como pedestres. “Os idosos estão sempre em atividade, fazendo compras, visitando parentes e amigos, indo ao banco, ocasiões em que necessita atravessar ruas e avenidas. Nem todos precisam de supervisão após os 70, 80 anos, mas é sabido que a mobilidade diminui, os reflexos ficam mais lentos e os sentidos já não são os mesmos, por isso a empatia e a atenção nunca são demais”.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsável pela fiscalização e controle do trânsito em rodovias federais em todo o país, mostram que a principal causa dos sinistros nessas rodovias é a falta de atenção ou reação dos motoristas, motociclistas e pedestres (36% das ocorrências). Questões comportamentais estão associadas à boa parte dos acidentes, como a desobediência das regras de trânsito (14,4%), excesso de velocidade (10%) e uso de álcool (5%). O principal tipo de ocorrência é a colisão frontal, responsável por quase 40% das mortes no trânsito.
Silveira revela que os motociclistas superaram os pedestres como as principais vítimas fatais e não fatais. “As motocicletas, por propiciarem deslocamentos mais rápidos e custo de aquisição mais acessível, passaram a ser utilizadas em maior escala tanto para o trabalho como para as atividades não remuneradas. Mas o expressivo crescimento da frota explica, em parte, o aumento da mortalidade envolvendo motocicletas, devendo ser acrescentado aos riscos da condução em alta velocidade e ultrapassagens perigosas para atender os prazos das entregas. E o uso de celulares pelos motociclistas e também motoristas de carro”.
Ele conclui que mais educação sobre o assunto nas escolas poderia surtir efeitos positivos. “Sou a favor que tenha essa conscientização desde a infância e que continue até a adolescência, tanto sobre o uso de cinto, do celular e de bebidas alcoólicas. Desde 2007, o Código de Trânsito Brasileiro prevê uma disciplina sobre o tema nas escolas, mas, até agora, nada foi implementado”.
Desde 2021, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir as mortes no trânsito em uma década. As metas sugeridas pela ONU devem ser implementadas até 2030. Os pesquisadores do Ipea ressaltam que é preciso investimentos em educação, infraestrutura, transporte público e atendimento. O objetivo é tornar as cidades brasileiras mais seguras para a circulação de pessoas e veículos.