Segundo o Ministério da Previdência Social, cerca de 288.865 brasileiros foram afastados do trabalho por causa de transtorno de saúde mental em 2023. Um dos mais abordados recentemente é o burnout, que é uma condição que tem afetado um número crescente de trabalhadores no Brasil. Caracterizado por exaustão física e emocional, esse transtorno resulta da pressão constante e das demandas excessivas no ambiente de trabalho.
De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% dos trabalhadores são afetados por essa condição. Uma pesquisa recente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) revelou que o estresse no ambiente de trabalho foi apontado por 23% dos brasileiros que pediram demissão entre novembro de 2023 e abril de 2024 como um dos principais motivos.
O estudo, que entrevistou 53.392 pessoas que deixaram seus empregos, destacou que a pressão no trabalho se tornou uma das maiores preocupações dos colaboradores, superando fatores como conflitos com superiores.
A psicóloga Sônia Miranda diz que diversos fatores têm contribuído para o aumento dos casos de burnout no Brasil, entre eles, a alta carga de trabalho, a pressão por resultados, a falta de apoio emocional e a instabilidade econômica. “Longas jornadas e prazos apertados têm sido uma realidade para muitos profissionais. A pressão por resultados rápidos e a competitividade exacerbada, muitas vezes, levam esses trabalhadores a se sentirem sobrecarregados. As empresas ainda não deram a devida atenção à saúde mental dos funcionários, o que torna o burnout uma realidade para muitos”.
“Os profissionais que sofrem desse transtorno podem experimentar problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, além de distúrbios físicos, como fadiga crônica e dores corporais. Esses impactos afetam relacionamentos pessoais e a qualidade de vida em geral, causando consequências graves para a saúde”, explica.
Letícia Figueiredo, diretora de recursos humanos, relata que os efeitos do burnout não se limitam ao indivíduo. “As empresas e a economia também sentem o impacto. Trabalhadores esgotados são menos produtivos, têm maior taxa de absenteísmo e estão mais propensos a deixar seus empregos, além de poder afetar o moral da equipe, criando um ambiente de trabalho negativo e diminuindo a colaboração entre os membros”.
“Funcionários exaustos são menos propensos a serem criativos ou a propor novas ideias, o que pode limitar a inovação dentro da empresa e também prejudicar sua imagem no mercado, afetando a atração de talentos e a fidelidade dos clientes”, afirma.
Para Sônia, é essencial que tanto empregadores quanto empregados adotem estratégias para prevenir o burnout. “As empresas devem investir em programas de bem-estar, incentivando pausas regulares e práticas de autocuidado; capacitar gestores para reconhecer os sinais do distúrbio e oferecer suporte adequado; trabalhar em conjunto para definir horários de trabalho; e respeitar o tempo pessoal dos colaboradores. Essas são algumas iniciativas que podem ajudar a minimizar o estresse”.
“A ascensão do burnout no Brasil é um sinal de alerta e exige atenção urgente. Combater essa síndrome não é apenas uma responsabilidade individual, mas um compromisso coletivo entre empresas e colaboradores. Somente com uma abordagem proativa e consciente será possível criar ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis, garantindo o bem-estar de todos”, conclui Sônia.