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Diagnóstico precoce é a palavra-chave para combater o lipedema

Doença é caracterizada pelo acúmulo de gordura nos braços e pernas – Foto: Freepik.com

Doença crônica, progressiva e ainda pouco conhecida, o lipedema atinge principalmente mulheres e é comumente confundido com obesidade ou linfedema. Segundo o estudo Prevalência e Fatores de Risco para Lipedema no Brasil, estima-se que 12,3% das brasileiras convivam com essa condição, caracterizada pelo acúmulo simétrico de gordura subcutânea, especialmente nas pernas, quadris e, em alguns casos, nos braços, provocando dor, sensibilidade e comprometimento da qualidade de vida.

Ao longo do mês, a campanha “Junho Roxo” promove ações de conscientização em todo o país, com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre o lipedema, incentivar o diagnóstico precoce e estimular a empatia em relação às mulheres que enfrentam a doença.

“Lipedema é uma gordura fibrosada, necrosada, que não responde a qualquer tipo de dieta, atividade física ou plano alimentar hipocalórico. Já a obesidade responde bem. O linfedema, por outro lado, é uma alteração dos vasos linfáticos, geralmente assimétrica. O lipedema se manifesta de forma simétrica, como nas duas pernas ou nos dois braços”, explica o médico Diego Torrico.

Ele aponta que os pacientes apresentam sintomas como sensação de peso, dor latejante, celulites que não são celulites, aspecto em “casca de laranja”, queimação, coceira, hematomas espontâneos e cansaço.

Segundo Torrico, a doença tem origem hereditária e o diagnóstico precoce é fundamental para evitar sua progressão. “Se não cuidar e tratar, a doença evolui. Não tem cura, mas podemos controlar sua progressão. É preciso apalpar as pernas, sentir as modulações, observar a evolução ao longo da vida da pessoa. Além disso, complementamos com exames como densitometria corporal e bioimpedância”.

O médico também chama atenção para os impactos psicológicos causados pela enfermidade. “Muitas mulheres deixam de usar vestidos, de ir à praia, de participar de eventos sociais. Se veem como desleixadas, mesmo seguindo dieta e praticando atividade física sem obter resultados. São pacientes que já foram julgadas por profissionais e familiares, e que muitas vezes nem sabem que têm uma doença real”.

Alimentação como ferramenta

Para a nutricionista Aline Quissak, uma alimentação personalizada pode ajudar a reduzir a inflamação e os sintomas do lipedema. “O detox terapêutico vai muito além de tomar suco verde. É uma estratégia baseada em testes genéticos, análises de sangue e da microbiota intestinal. Isso permite montar um plano alimentar terapêutico individualizado, que ajude a reduzir a inflamação, equilibrar os hormônios e melhorar a qualidade de vida”.

Ela salienta que polimorfismos genéticos podem comprometer as vias de detoxificação e o metabolismo hormonal, e que alimentos específicos, como vegetais crucíferos, ricos em indóis e glucosinolatos, favorecem a eliminação de estrogênios inflamatórios. Além disso, nutrientes como glutationa, N-acetilcisteína, vitaminas B6, B12, ácido fólico, colina e sulforafano desempenham papel essencial na detoxificação hepática.

“A detoxificação hepática é fundamental no manejo do lipedema, pois a doença está frequentemente associada à sobrecarga estrogênica, inflamação crônica e acúmulo de toxinas nos tecidos adiposos”, explica Aline.

A especialista também alerta para os efeitos de intolerâncias alimentares. “Glúten, leite e frutose podem ser gatilhos silenciosos, mas altamente inflamatórios. Eles aumentam a permeabilidade intestinal e estimulam a liberação de citocinas inflamatórias como IL-6 e TNF-alfa, agravando dor, inchaço e inflamação”.

Por fim, a nutricionista reforça que o futuro do tratamento passa por abordagens integrativas. “Genética, nutrigenômica, compostos bioativos e microbiota intestinal formam a base de um cuidado realmente eficaz. Não tratamos apenas os sintomas, mas a causa bioquímica da doença”, finaliza.