
Segundo o anuário IPC Maps 2025, as famílias brasileiras deverão gastar cerca de R$ 8,2 trilhões ao longo deste ano. Com base na estimativa atual de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), essa movimentação representará um aumento real de 3,01% em relação a 2024.
Mesmo com a elevada taxa de juros e a alta da inflação, o cenário é de otimismo para o consumo, com níveis percentuais bem acima aos da economia. Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing Editora e responsável pela pesquisa, a “melhoria dos níveis de emprego com carteira assinada proporcionou uma garantia de renda ao trabalhador, refletindo diretamente na escalada dos valores de consumo”.
A oferta maior de vagas de emprego formal também influenciou a atual configuração do perfil empresarial do país. Se nos anos anteriores houve um grande aumento na quantidade de empresas abertas, sobretudo de microempreendedores individuais (MEIs), em 2025, o crescimento de 4,2% em relação a 2024 foi puxado principalmente pelas microempresas (MEs) em detrimento das MEIs, cuja quantidade basicamente se manteve.
O doutor em economia, Weslley Cantelmo, explica que o país está com um desemprego relativamente baixo, ainda que seja na informalidade, e isso se converte em consumo. “Esse crescimento é sustentável, a médio e longo prazo. Na verdade, é um movimento tendencial que poderia ser até maior e mais qualificado, a depender da democratização da renda, com a ascensão das classes C e D”.
Ele destaca ainda que esse aumento no consumo não influencia tanto a inflação. “Óbvio que o consumo interno pode sim levar a um processo inflacionário em alguma medida, principalmente para alguns produtos específicos, como no caso de alimentos. Na atual composição da economia brasileira, há uma inflação sobre os serviços, mas ainda assim está dentro daquilo que vem se encaminhando em termos de incremento de renda”.
Hábitos de consumo
As preferências dos consumidores na hora de gastar seu dinheiro continuam sendo para a categoria de veículo próprio, cujas despesas devem somar R$ 885,9 bilhões, comprometendo 11,7% do orçamento familiar. Tal comportamento tem se repetido nos últimos cinco anos, chegando a superar, inclusive, segmentos como alimentação e bebidas no domicílio, que representam R$ 780,5 bilhões ou 10,3% do consumo domiciliar.
Ainda assim, os itens básicos são prioridade, com grande margem sobre os demais: 25,2% dos desembolsos destinam-se à habitação (incluindo aluguéis, impostos, luz, água e gás); 18,7% outras despesas (serviços em geral, reformas, seguros etc.); 6,7% são medicamentos e saúde; e 4,6% alimentação e bebidas fora de casa.
Classes D e E
Uma pesquisa desenvolvida pela Data-Makers e divulgada com apoio da ONG Gerando Falcões e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) mostra que 59% dos consumidores, com renda até dois salários mínimos, devem aumentar o consumo ainda neste ano, índice superior a todas as outras classes sociais estudadas.
De acordo com o levantamento, as classes D e E demonstram maior intenção de aumento de consumo que os demais grupos, chegando a 59%, enquanto a média da população é de 57%. Apenas 6% dos consumidores de baixa renda demonstram intenção em reduzir os gastos neste ano, o que mostra forte tendência de consumo.
Cantelmo esclarece que a expectativa de aumento de gasto dessas classes se explica pelo aquecimento do mercado de trabalho. “E junto com os programas sociais importantes permitem que essa faixa de renda mais empobrecida do país consiga permanecer fazendo o consumo dos itens que são básicos para o seu dia a dia”.
Porém, o economista alerta sobre o risco de endividamento dessas classes. “Existe um incremento dessa renda a partir do aquecimento do mercado de trabalho, em setores de baixa remuneração, e há também um estímulo no Brasil para o consumo por meio do crédito. O endividamento tem sido uma tônica da economia brasileira nos últimos anos e tem uma tendência de elevação”, finaliza.