O setor calçadista nacional também sofreu os impactos da crise sanitária. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), de janeiro a novembro de 2020 houve redução de 23,4% na produção, o equivalente a 200,2 milhões de pares a menos. No mesmo período, o emprego no ramo foi afetado e 13.415 mil postos de trabalho foram fechados. No entanto, a entidade está otimista e projeta crescimento de 14,1% para este ano, alcançando 810,6 milhões de unidades confeccionadas.
Em relação à produção, o Brasil foi o país que mais teve queda nos números, atrás de Índia (-22,6%), China (-14,2%) e Vietnã (-3,2%). Em 2020, as exportações também tiveram perdas e chegaram a 93,8 milhões de pares, sendo 21,4 milhões (-18,6%) a menos que em 2019, quando o índice ficou em 115,2 milhões de unidades. Em termos monetários, houve diminuição de US$ 313,7 milhões (-32,3%) no ano passado, passando de US$ 972 para US$ 658,3.
O estado do Rio Grande do Sul foi o que mais exportou em 2020, totalizando US$ 292,5 milhões. Logo a seguir vêm Ceará (US$ 167 milhões), São Paulo (US$ 66,8 milhões) e Paraíba (US$ 52,6 milhões). Minas Gerais ocupa a quinta posição com US$ 26,2 milhões. Os principais países de destino são Estados Unidos, Argentina e França. Conforme a entidade, a exportação também deve avançar 14,9% este ano e atingir 107,7 milhões de pares.
De acordo com o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, a pandemia de COVID-19 foi a principal responsável pelos números negativos em 2020. “Ela impactou a produção e o consumo do item não só no Brasil como no mundo todo. Além disso, tivemos muitas baixas no mercado de trabalho. Somente de março a junho foram fechados 60,1 mil postos, sendo considerados os piores meses”, destaca.
Ele acredita que este ano deverá ser melhor, mas ainda assim enfrentará algumas dificuldades. “Estamos animados com a expectativa do início da vacinação no Brasil para que o comércio possa continuar operando normalmente. Por isso, a nossa previsão de crescimento para o setor é esperançosa. Frisamos, ainda, a necessidade de seguir todos os protocolos de segurança e higiene necessários. Estamos de olho na situação da COVID em todos os estados”.
Para Ferreira, o setor poderá avançar ainda mais e ter uma recuperação mais robusta caso sejam feitas as reformas administrativa e tributária. “Sem está última, por exemplo, não é possível reduzir o custo da produção nacional. Porém, tem que ser feita com cautela, pois a realidade dos diversos estados brasileiros é diferente. Na pauta de 2021 também está a renovação e ampliação do direito antidumping que, atualmente, é aplicado contra calçados importados da China com o objetivo de garantir a concorrência leal no mercado interno brasileiro”.
Sobre o e-commerce, ele afirma que a modalidade tem funcionado bem durante a pandemia. “Muitas empresas começaram a atuar neste meio que veio para ficar. Até mesmo após passar o coronavírus, várias lojas vão continuar vendendo on-line. Essa era uma mudança que deveria acontecer ao longo do tempo, mas foi acelerada pela crise sanitária”, finaliza.
Perda de faturamento
Celso Rodrigues é gerente de uma loja de calçados e diz que 2020 foi o pior ano em vendas. “Nós tínhamos um grande estoque logo no começo do ano quando estourou a pandemia. Todas as lojas tiveram que fechar e nossos produtos ficaram encalhados. Fizemos propaganda e migramos para modalidade virtual, mas não é a mesma coisa que o cliente ir até o estabelecimento experimentar o produto antes de comprar”.
Segundo ele, a loja perdeu cerca de 60% de faturamento e quase a metade dos funcionários foi dispensada. “A situação só começou a melhorar em outubro, quando o isolamento social foi flexibilizado. Temos seguido todas as medidas de higiene, poucos clientes são atendidos por vez e disponibilizamos álcool em gel. Ainda não conseguimos nos recuperar aos mesmos níveis de antes, mas estamos no caminho certo”.