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Estudo revela queda no percentual de usuários do transporte público

Em 2024, o quantitativo foi 14,3% menor que em 2017 – Foto: Rodrigo Clemente/PBH

Segundo a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) de Mobilidade da População Urbana, o percentual de pessoas que utilizam o ônibus diminuiu. Em 2024, o quantitativo foi 14,3 pontos percentuais menor em comparação com 2017, quando a parcela que utilizava esse veículo era de 45,2%. Nesse mesmo sentido, o uso do metrô também reduziu de 4,6% para 4,2%.

O estudo aponta também, analisando o mesmo período, que a parcela da população que considera o transporte público um problema quase dobrou, passando de 12,4% para 24,3%. Em 2024, 29,4% dos entrevistados afirmaram que deixaram de usar totalmente o ônibus e 27,5% diminuíram o uso. O membro da Comissão Técnica de Transporte da Sociedade Mineira de Engenheiros e do Observatório da Mobilidade de Belo Horizonte, José Aparecido Ribeiro, conversou com o Edição do Brasil sobre o tema.

Quais são os pontos que explicam a elevação dos preços do transporte público?
A qualidade do transporte público, que é ruim, e por isso, as pessoas estão deixando de usar. Com as facilidades de crédito e de parcelamento, especialmente da motocicleta, os usuários deixam de usar o transporte público. Então, no meu entendimento, a qualidade piorou e vem piorando. Cidades como Belo Horizonte, que o metrô transporta 200 mil pessoas por dia, perto do que é necessário, que é de 1 milhão e 500 mil, ele não serve, pois não tem utilidade, do ponto de vista da mobilidade. Teríamos que ter mais linhas.

Qual seria a melhor solução para driblar o problema da diminuição de passageiros para não impactar na tarifa?
Qualidade, as pessoas querem um transporte público de boa qualidade. Outro ponto é que a nossa cultura tem muito mais a ver com o modelo americano do que o europeu. Para o brasileiro, o carro não significa só transporte, significa status. E mapeamento de origem/destino, precisamos saber de onde as pessoas saem e para onde elas vão, isso bem mapeado ajuda a incentivar o uso do transporte público.

Quais são os principais problemas de financiamento?
O problema de financiamento do transporte público é que alguém tem que pagar a conta. Nos países desenvolvidos temos exemplos de governos que investem na infraestrutura e fazem concessão, para a iniciativa privada, para a manutenção, porque os investimentos são muito caros. As cidades, infelizmente, estão quebradas e o Pacto Federativo do Brasil concentra o dinheiro em Brasília e deixa os municípios à míngua. E o transporte coletivo é um problema do Executivo municipal, não do governo federal.

Por que o subsídio dado pelas prefeituras não consegue manter o preço das passagens aos passageiros?
Não é simples subsidiar um transporte coletivo para uma cidade que tem uma demanda, por dia, de 1,2 milhão de pessoas, por exemplo. É ilusão de que dos nossos impostos é possível dar transporte coletivo para a população. Aqueles países que fizeram investimento em infraestrutura de metrô, monotrilho e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), conseguem administrar melhor a situação. Os que dependem da iniciativa privada com carrocerias de ônibus estão em situações mais difíceis.

Quais são as principais dificuldades para implantar a Tarifa Zero?
O sistema custa caro, a prefeitura tem outras prioridades e alguém precisa pagar a conta para que haja transporte coletivo, ou seja, alguns têm que pagar pelos outros, os que não usam têm que pagar pelos que usam. Nós pagamos 35% de impostos, mas as demandas são maiores. As contas precisam ser refeitas, sob demanda e oferta, para que haja um equilíbrio de preço.

Qual seria a melhor solução para melhorar o sistema de transporte público no país?
A diversificação dos modais, oferecendo mais conforto e preço justo. Investir em modais de transporte que têm apelos capazes de fazer as pessoas, que andam de carro, pensarem em mudar de comportamento. Que seriam: o metrô, em primeiro lugar; o monotrilho e VLT, em segundo; e só em terceiro, o ônibus, montados com mais comodidade.