O futebol feminino brasileiro foi medalha de prata nos jogos olímpicos de Paris 2024, e em 2027, o Brasil será sede da Copa do Mundo Feminina, esses motivos podem contribuir para um momento próspero para a modalidade. Dados mostram que o número de torcedores que assistem apenas a partidas do clube do coração cresceu e chegou a 21%. Em 2023, esse índice era de 18%.
Já o percentual da torcida que assiste ao máximo de jogos que consegue foi de 18% para 17%, permanecendo na margem de erro. O estudo aponta ainda que a tendência é de queda nos números de quem não assiste a modalidade. Se em 2023, o percentual era de 62%, no levantamento atual, este número é de 59%, é o que revela a pesquisa “Maior Raio-X do Torcedor”, realizada pela Quaest.
A jornalista esportiva Aline Teixeira acredita que o índice do público que acompanha a modalidade vai crescer ainda mais. “Embora caminhamos a passos muito mais lentos que poderia para a evolução tanto da modalidade tecnicamente quanto do número de adeptos ao futebol jogado por mulheres. Vivemos um processo mais desafiador e cheio de heranças negativas do que foi a evolução do futebol masculino. Porém, ainda assim, já começamos a fazer com que as pessoas entendam que a modalidade feminina veio para ficar”.
Ela pontua que transpor as barreiras do machismo estrutural é o principal desafio. “Descartar essas heranças que o machismo deixa na sociedade, que trava a evolução e o desenvolvimento do futebol feminino. Parece que estamos na época quando a modalidade era proibida para mulheres. As pessoas ainda carregam esse estigma, mesmo que inconscientemente”.
“Outro grande desafio é fazer com que mais mulheres estejam à frente, também, das grandes equipes. Ocupem cargos de gestão e de liderança, porque é com o olhar dessas mulheres que a visão geral do clube sobre a modalidade vai passar do cumprimento de uma obrigatoriedade para se transformar em algo estratégico, profissionalizado e sustentável”, acrescenta.
Os clubes
“Cito três equipes que já entenderam que o futebol feminino precisa ser encarado de forma profissionalizada. O Corinthians, que já é consagrado; o Palmeiras, principalmente depois da chegada da Leila Pereira; e o Cruzeiro. Temos que dar um destaque também para o Ferroviária, uma equipe tradicional e organizada. Existem outros times que também fazem um trabalho sério”, conclui Aline.
Perfil
Segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), há mais de 7.300 jogadoras amadoras no Brasil e 801 atuando em equipes profissionais. De acordo com o Diagnóstico do Futebol Feminino do Brasil, feito em 2023 pelo Ministério do Esporte, 84% das atletas nas categorias de base jogam em times do Sul e Sudeste (50% em cada). Deste total, 73% das meninas nasceram em estados das duas regiões, o restante é formado por jogadores emigrantes.
A atacante Rayla Santana, de 24 anos, revela que desde pequena sempre teve paixão pelo futebol. “Assistia os meninos jogarem e me apaixonei pela forma que eles comemoravam. Via a felicidade neles e eu queria essa felicidade para mim”.
Ela é profissional há seis anos e sempre disputou campeonatos nas favelas do Rio de Janeiro. “Comecei nas quadras, depois fui para o campo, onde me apaixonei de vez pelos gramados. Um belo dia, uma amiga me chamou para jogar pelo Foz Iguaçu e aceitei, mas tive muitos problemas e voltei para o Rio. Pouco tempo depois, a gerente do Fluminense me ligou querendo me contratar, e foi nesse momento que ganhei a oportunidade de virar uma profissional”.
Atualmente, Rayla trabalha em Belo Horizonte. “Meu sonho é chegar à Seleção Brasileira e mudar o meu futuro e o da minha filha com o futebol. Pelo último Campeonato Mineiro, fui a primeira atleta da história a marcar um gol pelo time feminino do Itabirito e ganhei uma placa do clube”.