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Principais adversários do futebol feminino são machismo enraizado e pouca visibilidade

A menos de um mês do pontapé inicial para a Copa do Mundo de futebol, o clima no Brasil permanece intacto. Ao contrário do que aconteceu há um ano, desta vez, não tem cobertura maciça da imprensa e nenhum veículo foi para a França, local onde vai acontecer os jogos. As pessoas não foram comprar camisas da seleção, não tem pintura nas ruas e nem o comércio está decorado de verde e amarelo. Sabe o porquê dessa diferença? Em 2018 o mundial era masculino e, agora, será o feminino.

Para a árbitra credenciada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Andreza de Siqueira, as categorias femininas ainda sofrem com o machismo. “Já ouvi das arquibancadas frases como ‘lugar de mulher é passando roupa’, ‘futebol é esporte pra macho’ e ‘nossa essa joga igual homem’, quando uma atleta joga bem”.

Tatiana Barros, jornalista esportiva, corrobora com a opinião de Andreza. “O machismo é algo muito real nesse universo. Começando pela remuneração, dentro ou fora das quatro linhas; sejam jornalistas, jogadoras, árbitras e etc, ganhamos muito menos que os homens. Além disso, às vezes, nossas opiniões não são levadas em considerações por acharem que não entendemos de futebol”.

Apesar da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) exigir que os times masculinos tenham também equipes femininas, a modalidade ainda sofre com a falta de investimento e infraestrutura. “É preciso ter categorias de base. As meninas precisam começar a treinar desde cedo, como é no masculino. Hoje, o que pesa no futebol brasileiro feminino é a parte física, e isso é adquirido com muito treinamento. Apito competições em que as atletas treinam uma vez por semana, trabalham em outros lugares e, às vezes, estão com fome e cansadas antes mesmo de iniciar a partida. Se sem condições adequadas já chegamos longe em muitas competições, imagina se tivéssemos estrutura? Com certeza já estávamos colecionando troféus, porque talento nós temos”, enfatiza Andreza.

Já fora de campo, atualmente, há alguns coletivos feministas que lutam pela valorização das jogadoras e pelo fim da cultura machista. Toda Poderosa Corinthiana, Coletivo INTERfeminista e o Movimento Coralinas, do Santa Cruz, são alguns exemplos dessa união. “Dia após dia, as mulheres estão ocupando mais cargos dentro desse universo e, assim, vamos derrubando os preconceitos”, reitera Tatiana.

O que esperar da seleção

Os bons resultados da seleção parecem ter ficado no passado. Sem ganhar desde setembro de 2018, a equipe está passando por um momento complicado. “O Brasil tem muitas jogadoras talentosas, mas que, infelizmente, passam despercebidas por atuarem em competições amadoras”, analisa Andreza.

Já Tatiana está mais otimista em relação ao mundial. “Podemos esperar muito empenho e garra desta nova geração. Primeiro porque será a consagração de um sonho para cada uma colocar o futebol brasileiro na vitrine mundial. Além disso, elas vão buscar também a visibilidade individual para conseguir patrocínios, que sabemos que não é nada fácil”.

O time segue tendo Marta, a melhor jogadora de futebol do mundo tanto no masculino quanto no feminino, como o principal nome e as veteranas Formiga e Cristiane devem ajudar a camisa 10 a dar estrutura para a equipe. “Hoje temos cinco jogadoras, Andressa, Bia, Adriana, Camilinha e Kerolin, que são promessas para esse mundial, mesmo parte delas ainda se recuperando de lesões”, diz Tatiana.

Além do mais, a Copa do Mundo deste ano será histórica para a modalidade, afinal essa é a primeira vez que os jogos serão transmitidos ao vivo na televisão aberta. A cobertura do evento será feita pela Band. “O brasileiro é apaixonado por futebol, mas infelizmente não está acostumado a assistir o feminino, até porque não é transmitido nem na TV fechada. Acredito que possa ser uma forma de começar a trazer o olhar e a torcida para a modalidade e, consequentemente, atrair investimentos”, finaliza Andreza.