De acordo com o levantamento da Associação dos Mantenedores Independentes Educadores do Ensino Superior (Amies), Minas Gerais conta com uma média de 2,87 médicos por mil habitantes, número inferior à recomendação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 3,73 profissionais.
O estudo também aponta que 2,81% das regiões da saúde (conjunto de municípios que compartilham identidades culturais, econômicas, sociais, infraestrutura de transporte e serviços de saúde) contam com mais de 3,73 médicos, enquanto 76,91% possuem 1,7 médico disponível para atender à população. Cidades localizadas na região metropolitana de Belo Horizonte, como Sete Lagoas, Confins e Contagem apresentaram índices baixos, com 2,68, 2,54 e 2,24 profissionais, respectivamente.
A região de Vespasiano/Lagoa Santa conta com 1,83 médicos por mil habitantes. A mesma situação ocorre em São João del-Rei, Três Corações e Teófilo Otoni, que dispõem de 1,98, 1,93 e 1,79 médicos, respectivamente. Apesar de estar distante da capital, a região da saúde de Varginha tem melhores índices, mas ainda abaixo do recomendado, com 3,39 profissionais.
A advogada e consultora jurídica da Amies, Priscila Planelis, afirma que ao analisar os dados, fica claro que existe uma disparidade muito grande na distribuição de profissionais em Minas Gerais. “Ter mais de 76% de regiões de saúde com até 1,7 médico para atender à população é algo extremamente preocupante e que precisa de uma atuação imediata do poder público”.
Para o médico proctologista, Marcelo Werneck, o que mais chama atenção é exatamente esse dado. “Sabemos que estatisticamente tem muito mais profissionais nas regiões Sudeste e Sul do país, do que no Norte e Nordeste, e isso é um grande problema. Precisamos não só ter uma quantidade adequada, mas uma distribuição também, e fora isso, uma medicina de qualidade”.
“O mais importante é tentar resolver essa distribuição regional. Vimos alguns projetos, em governos anteriores, de querer levar os profissionais para o Norte e regiões longínquas, oferecendo um salário adequado, porém, sem nenhuma garantia trabalhista que qualquer outra profissão tem. Falta um plano de carreira para a categoria e também melhorar o vínculo do médico com o local de trabalho”, acrescenta.
Contraste
Já um estudo divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) mostra que o Brasil quase duplicou o número de médicos nos últimos 14 anos, passando de 304 mil, em 2010, para cerca de 576 mil, em 2024. O painel revela que nenhum estado registrou diminuição da quantidade ou da densidade médica nesse período. Porém, ao avaliar os índices de razão de profissionais por mil habitantes, o quadro ressalta as disparidades socioeconômicas e de infraestrutura nas diferentes regiões do país.
Enquanto unidades da federação economicamente mais desenvolvidas apresentam um número significativo de médicos a cada mil habitantes, outras sofrem com a escassez desses profissionais de saúde, em especial nas cidades do interior.
Em números absolutos, conforme o levantamento, São Paulo registra a maior quantidade do país, com 166 mil profissionais registrados. Em seguida, aparecem Minas Gerais (72 mil), Rio de Janeiro (70 mil) e Rio Grande do Sul (37 mil). Já as com menor quantitativo são o Amapá (1,1 mil), Roraima (1,2 mil), Acre (1,5 mil) e Tocantins (4,3 mil).
Werneck salienta que o número de médicos aumentou, contudo, há uma supersaturação de alguns mercados em detrimento de outras. “E isso prejudica não só a população, que sofre com essa concentração, mas também os profissionais que começam a ter condições de trabalho muito ruins. Precisamos de uma política de incentivo para ter essa distribuição, além de formações, para essa profissão, nessas regiões que têm esse déficit”, finaliza.