Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% das 600 milhões de pessoas obesas em todo o mundo, que buscam tratamentos para emagrecer, sofrem de depressão ao longo da vida. Além de alarmante, essa estatística evidencia a relação estreita entre essas duas condições de saúde, que afetam milhões de pessoas globalmente. A prevalência da obesidade e da depressão é uma realidade mundial, e estudos indicam que indivíduos com distúrbios psiquiátricos têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolverem obesidade.
Para Mauro Jácome, médico especialista em endoscopia e cirurgia geral, a relação entre as doenças é ainda mais complicada do que pode parecer. “Essas patologias são evidentes e devem ser tratadas com seriedade. De qualquer modo, são doenças com uma elevada relação. O diagnóstico do quadro depressivo é fundamental para que o paciente tenha um tratamento adequado, possibilitando a melhora da sua qualidade de vida”.
Ainda em sua avaliação, o maior desafio é quebrar o ciclo vicioso de aumento do grau de gravidade destes distúrbios nestes pacientes. “As doenças em conjunto levam, principalmente, a níveis severos e graves de obesidade (grau 3 ou mórbida) e também depressão profunda ao longo dos anos, ocasionando doenças associadas de alta morbidade e mortalidade como hipertensão, diabetes, infarto, insuficiência renal e risco de abuso de álcool e drogas e suicídio”.
A psiquiatra Daniela Andrade afirma que a obesidade pode contribuir para o desenvolvimento de depressão, em parte devido ao estigma social, à discriminação e à baixa autoestima que muitas pessoas obesas enfrentam. “A pressão estética e os padrões de beleza podem levar a sentimentos de inadequação e tristeza, por outro lado, a depressão pode levar a alterações no comportamento alimentar, como o aumento do consumo de alimentos altamente calóricos e pouco saudáveis, resultando em ganho de peso, além de perda da motivação em manter uma rotina mais saudável. É um ciclo em que um problema causa outro, tornando a recuperação mais difícil”.
Jácome cita que “os principais recursos e apoios disponíveis são procedimentos de emagrecimento que auxiliem o paciente a dar uma grande arrancada na perda de peso, como o balão gástrico e a endosutura gástrica, por serem reversíveis e principalmente por podermos ajustar o tratamento ao quadro do paciente de depressão, além de uma grande equipe de cuidados multidisciplinares para conduzir o tratamento”.
Daniela também ressalta que dada a complexidade da relação entre obesidade e depressão, é necessário que médicos, psicólogos e nutricionistas trabalhem juntos para oferecer um suporte completo aos pacientes. “Quando as pessoas recebem apoio psicológico e orientações sobre alimentação saudável, a probabilidade de sucesso no tratamento aumenta significativamente”.
Caso
Leonardo Mendes, paciente que faz tratamento para obesidade, conta que desde a adolescência tinha sobrepeso, mas na fase adulta as coisas pioraram. “Devido a muito estresse no trabalho e vida pessoal acabei descontando tudo em comida e cheguei a pesar 120 kg. Tinha vergonha de sair de casa e fazer coisas básicas do dia a dia, pois tinha dificuldade em tudo, sem falar no lado psicológico abalado”.
“Quando fui diagnosticado com depressão, fiquei surpreso porque achei que aqueles sintomas eram ‘normais’ da obesidade como sentimento de culpa, baixa autoestima, desânimo, insônia e aumento do apetite. No tratamento multidisciplinar, aprendi a lidar com meus sentimentos de forma mais saudável e a buscar alternativas para a comida como fonte de conforto. Comecei a fazer mudanças na minha rotina e ser mais gentil comigo mesmo, e hoje já emagreci 40 kg”.