Clubes de futebol no país enfrentam crises financeiras que ameaçam sua sobrevivência e desempenho esportivo. Endividamentos crônicos comprometem o fluxo de caixa, impedindo os investimentos necessários para o sucesso em campo. Segundo o Relatório Convocados, os 20 principais clubes do Brasil somam um total de R$ 11,7 bilhões em dívidas.
Um dos mecanismos que podem ser utilizados pelos clubes para reverter essa situação é a recuperação judicial. A medida permite que empresas em dificuldades financeiras reestruturem suas dívidas e operações, evitando a falência. A ferramenta possibilita a renegociação de contratos, a suspensão de execuções judiciais e a reorganização financeira, criando condições paraum gerenciamento mais sustentável e eficiente.
O instrumento pode ser solicitado por agremiações em situação de insolvência, quando as receitas não cobrem as despesas e há dívidas previamente acumuladas. No entanto, a aplicação da recuperação judicial exige um trabalho rigoroso de reestruturação, que pode incluir a transformação da natureza societária de associação civil sem fins lucrativos para Sociedade Anônima do Futebol (SAF), caso o clube ainda não tenha adotado esse tipo societário.
A advogada especialista em recuperação judicial, Mara Wilhelm, destaca que a reorganização do fluxo de caixa é um dos principais benefícios. “Com a suspensão temporária das execuções judiciais e a renegociação de dívidas, através do plano de recuperação apresentado, os clubes conseguem reduzir a pressão financeira imediata, permitindo que recursos sejam direcionados para áreas estratégicas. Isso inclui a contratação de jogadores, a melhoria das instalações esportivas e o investimento em categorias de base”.
Times sob recuperação judicial
O Figueirense foi o primeiro clube do país a pedir a recuperação extrajudicial, no início de 2021. Na época, estava com uma dívida de R$ 165 milhões. Em 2023, o clube ingressou com o pedido de recuperação judicial e agora aguarda a realização da assembleia de credores.
Em Minas Gerais, o Cruzeiro finalizou a terceira fase de pagamentos de sua recuperação judicial, iniciada em novembro de 2023, cujo valor soma cerca de R$ 500 milhões. Outras equipes tradicionais do futebol brasileiro, como Paraná, Joinville, Santa Cruz e Guarani, também recorreram a essa ferramenta.
Recentemente, a medida foi sugerida ao Corinthians, que possui uma dívida total de R$ 2,1 bilhões, de acordo com uma empresa de consultoria. Caso isso aconteça, deverá ser a maior recuperação judicial ajuizada até então nesse segmento.
“Com uma gestão profissional e transparente, controles internos rígidos e prestação de contas regular, os times podem se blindar contra novas crises. O plano de recuperação deve ser bem elaborado, considerando as peculiaridades do setor esportivo, como a previsão de receitas futuras de direitos de transmissão, patrocínios, necessidade de investimentos em infraestrutura e categorias de base, e uma gestão financeira profissionalizada”, finaliza Mara.