Um estudo feito pelo Núcleo de Saúde e Políticas Públicas do Insper, com apoio da biofarmacêutica AstraZeneca e em alinhamento com a Lung Ambition Alliance, mostrou que a alta mortalidade do câncer de pulmão gera prejuízos à economia do país. Ao analisar dados fornecidos pelo DataSUS, especialistas avaliaram que, em 2019, o custo do câncer de pulmão foi de R$ 1,3 bilhão. Dessa quantia, estima-se que apenas 20% tenha sido gasta diretamente com o tratamento dos casos.
A maior parte do valor, equivalente a R$ 1 bilhão, são custos indiretos, ou seja, relacionados à perda de produtividade pela morte precoce e pelo absenteísmo (faltas no trabalho) durante o curso da doença. Os pesquisadores concluíram que do ponto de vista da saúde e econômico, é urgente que o câncer de pulmão seja rastreado e diagnosticado precocemente.
No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de pulmão é o terceiro mais frequente entre homens e o quarto mais comum entre as mulheres. As estimativas indicam que para cada ano do triênio 2023/2025 sejam diagnosticados 32.560 novos casos de câncer de pulmão, traqueia e brônquios no país (18.020 em homens e 14.540 em mulheres).
Esses números correspondem a um risco estimado de 17,06 casos novos a cada 100 mil em homens e 13,15 para cada 100 mil em mulheres. A doença continua sendo a mais letal entre todos os tipos de câncer. São 1,8 milhão de mortes anuais, segundo o Globocan, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS).
O câncer de pulmão acomete principalmente idosos. A maioria dos pacientes tem 65 anos ou mais, enquanto um pequeno percentual de casos é diagnosticado em pessoas com menos de 45 anos. A idade média no momento do diagnóstico é de 70 anos. Em geral, a chance de um homem desenvolver câncer de pulmão em sua vida é de cerca de 1 em 16, enquanto para uma mulher, esse risco é de 1 em 17. Para os fumantes, o risco é muito maior, enquanto que para os não fumantes, esse risco é obviamente menor.
A principal causa é o tabagismo, responsável por 80% a 90% dos casos. Outro fator de importância está relacionado à exposição a agentes carcinogênicos (asbesto, arsênico, berílio, cádmio, entre outros) no trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 17 a 29% dos casos de câncer de pulmão estejam ligados à exposição ocupacional. Apenas 16% dos cânceres são diagnosticados em estágio inicial (câncer localizado), para o qual a taxa de sobrevida é de 56%.
Diagnóstico
Para o oncologista Fernando Cunha, o procedimento de rastreio é complexo, pois a doença costuma ser assintomática. “Na maioria dos casos, o raio-x do tórax e a tomografia computadorizada são os exames que iniciam a investigação do quadro. Porém, o diagnóstico definitivo só é feito a partir do resultado da biópsia, que consiste na retirada de um pequeno fragmento da lesão”.
Ele diz ainda que a única forma de conseguir aumentar o número de diagnósticos iniciais é implementando política de rastreamento para câncer de pulmão. “Fazer tomografias de rotina em toda população acima dos 50 anos de idade, principalmente entre aqueles que fumam ou são expostos ao uso do cigarro. A tomografia de tórax precisa fazer parte do check-up anual, especialmente para quem tem mais risco de adquirir o câncer”.
Ainda segundo o oncologista, entre as principais dificuldades indicadas estão a falta de financiamento para o rastreamento, bem como a ausência de protocolos de tratamento e triagem. “Outras situações que agravam o déficit são as desigualdades regionais, o estigma sobre a doença e o baixo treinamento e engajamento profissional”, alerta.
Tratamento
Cunha comenta que houve diversos avanços nas tecnologias para tratar esse tipo de câncer nos últimos 15 anos. “A cirurgia robótica é uma das intervenções mais modernas no mundo, e que já é uma realidade em várias regiões do Brasil. Temos também o cuidado sistêmico, se necessário; a radioterapia, também com intuito de controle local da doença. E, do ponto de vista medicamentoso, são inúmeras as possibilidades, desde a quimioterapia tradicional até drogas mais modernas, como imunoterapia e terapias-alvo”.