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Pesquisa revela desigualdade no acesso à educação e queda no analfabetismo

O índice reduziu 0,5 ponto percentual entre 2019 e 2022 – Foto: Renato Araújo/Agência Brasília

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, a taxa de analfabetismo no Brasil registrou queda de 0,5 ponto percentual entre 2019 e 2022. A nova taxa de 5,6% reflete a redução em todas as faixas etárias. Em relação ao acesso à educação, o estudo mostra realidades distintas no recorte por cor ou raça: enquanto 60,7% dos brancos, com pelo menos 25 anos, haviam finalizado o ensino médio, entre os pretos e pardos essa taxa foi de 47%.

Para entender mais sobre o assunto, o Edição do Brasil conversou com Jacqueline Caixeta, que é pedagoga, psicopedagoga, pós-graduada em alfabetização e letramento, especialista em inclusão escolar e escritora.

O que significa ser uma pessoa alfabetizada?
Quando falamos que um cidadão está alfabetizado, quer dizer que ele não só domina a grafia e o fonema, sabe ler e escrever, mas também tem uma compreensão disso tudo. É o que a gente chama de letramento.

A pesquisa revelou queda no analfabetismo. Podemos dizer que a educação no país melhorou?
A educação do Brasil não melhorou com a queda do analfabetismo. Para ter essa melhora é preciso compreender primeiro todos os processos. Não só da alfabetização, mas do letramento, da construção do pensamento e de políticas públicas voltadas para esse segmento.

O estudo detectou várias desigualdades em relação ao acesso à educação. O que o governo pode fazer para diminuir esses índices?
Precisamos ter políticas públicas voltadas para a base. A educação é um grande problema em todas as suas instâncias, porém, há uma necessidade de se investir nessa fase. Outro ponto é a formação dos professores, que ainda é muito arcaica, tradicional e não tem um olhar voltado para o século XXI.

De acordo com o levantamento, houve queda no percentual de crianças de 4 a 5 anos que frequentam a escola, de 2019 para 2022. Na sua opinião, o que pode ter ocasionado esse declínio?
A queda no número de crianças matriculadas é um impacto da pandemia, mas também tem a questão da oferta. A oferta é bem menor do que a demanda e faltam vagas. Não há escola para todos, isso é um caso sério e que tem que ser resolvido. Essa redução não é em razão dos pais não matricularem os filhos na escola, mas porque não há vaga para todos.

Dos 52 milhões de jovens com 14 a 29 anos do país, 18,3% não completaram o ensino médio. Qual política pública seria ideal para tentar resolver esse problema?
O novo ensino médio veio como uma resposta. Nós temos uma base comum curricular e o que chamamos de itinerários formativos, que seria o atrativo para que esses adolescentes fiquem na escola e não abandonem antes de terminar os estudos. No entanto, o estudante de 14 e 15 anos, na maioria das vezes, precisa trabalhar para complementar a renda dentro de casa. Seria muito interessante pensar em uma questão voltada para verbas para os alunos.

Com o ensino médio em tempo integral, já estou dizendo para essa comunidade e população, que o adolescente não vai poder trabalhar. Pensarmos em bolsas de estudo para que o aluno fique na escola o dia todo, faça o ensino médio e tenha uma boa formação, seria o ideal. Isso resolveria a questão social e econômica dessa família e também a formação desse adolescente.

Qual é o principal desafio da educação brasileira?
Hoje, percebo dois grandes desafios na educação brasileira. O primeiro são as verbas. Há dinheiro, mas falta uma boa administração e vontade política para direcionar os valores e usá-los adequadamente. O outro desafio é a família, que precisa enxergar a escola como um complemento da educação para o filho. A criança tem que ser educada em casa.