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10% dos diagnósticos de câncer de mama são em mulheres com menos de 40 anos

No Brasil, políticas públicas de controle do câncer de mama vêm sendo desenvolvidas desde os anos 80, se popularizaram e ajudaram a quebrar alguns dos tabus em torno da doença, mas sempre com foco nas mulheres a partir de 40 anos. O Edição do Brasil conversou com Cristiana Buzelin, chefe do Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFMG, sobre outra parcela da população feminina acometida pelo câncer nas mamas: as mulheres de 18 a 39 anos, fora da faixa etária de risco e do alvo das campanhas de prevenção.

No Brasil, quantas mulheres são acometidas pelo câncer de mama entre os 18 e 39 anos?

Em geral, no mundo, cerca de 7 a 10% dos diagnósticos de câncer de mama são em mulheres com menos de 40 anos. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), para o biênio 2018-2020, é de 59.700 novos casos no Brasil, então cerca de 5 mil seriam diagnosticados em pacientes com idade entre 18 e 39 anos.

Esse índice tem aumentado e quais são as causas?

O número de casos em pacientes jovens e também na pós-menopausa tem aumentado, devido à conscientização da população sobre o diagnóstico, levando a uma maior vigilância e conhecimento do corpo, principalmente das mamas e, assim, a uma investigação mais ampla. Associado a isso, houve uma melhor capacitação dos profissionais e maior preparo dos serviços de saúde. Hábitos de vida, como alimentação rica em gordura e calorias levando à obesidade, uso de bebidas alcoólicas e hormônios e vida sedentária contribuem para o avanço no número de casos. O fato das mulheres não terem filhos, ou esperarem mais tempo para engravidar, com mais de 35 anos e nem sempre os amamentam, também é fator que eleva a incidência.

Em geral, o câncer de mama na mulher jovem é mais agressivo?

Sim, o câncer de mama que acomete mulheres jovens tem uma relação maior com herança genética e, geralmente, é diagnosticado em fase mais avançada, pois simula outras lesões benignas, retardando seu diagnóstico. Essas lesões apresentam um crescimento mais rápido e associadas ao diagnóstico tardio, tem resposta menor ao tratamento e um prognóstico menos favorável.

Por que as campanhas de prevenção são exclusivamente voltadas para as mulheres a partir dos 40 anos?

Como todas as políticas de saúde pública, as campanhas de diagnóstico do câncer são voltadas para a faixa etária mais acometida, mas a conscientização de todas as mulheres é importante para a detecção em todas as faixas etárias. É importante ressaltar que no câncer de mama não há como prevenir (como é feito no de colo uterino), pois não conseguimos detectar lesões que poderiam ser tratadas antes que elas se transformassem em câncer, mas podemos diminuir o risco e buscar o diagnóstico precoce, por meio da mamografia e ultrassonografia, de tumores ainda iniciais, não palpáveis, com grande chance de cura.

Quais indícios a mulher jovem precisa estar atenta?

Deve ficar atenta quando tiver três ou mais casos de câncer de mama na família, quando acometer mais de dois parentes de primeiro grau, isto é, mãe ou irmã, ou quando afetar alguém do sexo masculino, pois isso indica existir alguma alteração genética hereditária na sua família, aumentando o risco de desenvolver câncer antes dos 40 anos. Geralmente, o ginecologista vai detectar e indicar o melhor momento da mulher procurar o mastologista. A indicação do Ministério da Saúde é a partir dos 50 anos de idade. Se a paciente apresentar maior risco, o ginecologista vai encaminhá-la ao mastologista mais precocemente.

Dor na mama ou “fincadas” podem ser sinais de câncer?

Os sintomas de câncer são muito variados, ele pode não dar nenhum sinal, ou apresentar áreas densas irregulares na mama, retração e ulceração da pele e do mamilo, secreções que saem espontaneamente pelo mamilo, além de nódulos palpáveis. Dor e “fincadas” também podem aparecer; porém, são mais comuns em doenças inflamatórias.

Quais são as dicas para mulher conhecer suas mamas?

Durante a vida da mulher, a mama tende a sofrer alterações, por isso é comum ela notar algumas nodulações ou áreas diferentes que não tinha observado antes. Com as mudanças que acontecem no ciclo hormonal mensal, a mulher pode perceber sua mama mais dura ou maior em determinados dias do mês. Assim, ela intui quando algo está diferente . O importante é a mulher conversar com seu ginecologista e mastologista e fazer a mamografia e/ou ultrassonografia quando for indicado para o seu caso, pois o ideal é diagnosticar antes que o câncer seja palpável. Felizmente, a maioria das lesões mamárias são benignas.

Exercícios podem prevenir o câncer de mama?

A atividade física diminui o risco de câncer em geral, não só o de mama, além de aumentar a chance de sucesso no tratamento. A amamentação também é um fator que diminui o risco de câncer de mama.

Além do câncer de mama, existem outras doenças que afetam os seios?

Existem várias doenças e lesões na mama, sendo a maioria benigna, algumas formam nódulos como o fibroadenoma, outras formam cistos como a alteração fibrocística.