De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), os empreendimentos desse setor continuam segurando os repasses de preços para os consumidores pelo sexto mês consecutivo, reduzindo a margem de lucro. Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicaram que a inflação da alimentação fora do lar cresceu 0,37% no último levantamento, frente a um aumento de 0,44% dos alimentos e bebidas.
No acumulado de 12 meses, o índice do setor alcançou 4,24%, em conformidade com o resultado geral de 4,23%, mas abaixo da alimentação no domicílio (4,89%). Uma pesquisa realizada pela Abrasel mostrou que 39% dos empresários disseram não ter conseguido reajustar os preços dos cardápios nos últimos 12 meses. Enquanto 51% afirmaram ter realizado adequações conforme ou abaixo da inflação e apenas 10% reajustaram acima da inflação.
O presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, afirma que os dados mostram que os bares e restaurantes têm absorvido parte dos custos adicionais. “No entanto, esse movimento vem comprometendo ainda mais os resultados das empresas, evidenciando a dificuldade do setor em manter a competitividade e a viabilidade econômica”.
O economista Paulo Roberto Bretas ressalta que os empreendimentos dessa área sempre utilizaram dessa fórmula. “Desde 2020, os bares e restaurantes se queixam de não conseguir repassar os custos do processo inflacionário que eles sofrem, e encontram nesse método, de conter os repasses, a sobrevivência”.
“O que impacta muito os negócios do setor são os aluguéis. No pós-pandemia, esses custos ficaram mais elevados. Além disso, a economia foi aquecendo, e como existe uma pressão sobre os salários, a contratação ficou mais difícil, pois com a concorrência, o honorário teve que aumentar. Outro ponto é a inflação de alimentos, que prejudica muito o empreendimento, e também o preço da energia elétrica e do gás de cozinha, que continuam altos”, acrescenta.
Ele explica também que os bares e restaurantes não conseguiram acompanhar a subida da inflação, em uma estrutura de mercado de altíssima concorrência. “Esse segmento precisa buscar elementos que vão além do preço, porque já passou da hora desses estabelecimentos se modernizarem. Procurar uma diversificação em termos de produtos e de ganho de produtividade, tendo o máximo de unidade para fazer mais com menos”.
Realidade
Segundo o mais recente estudo da Abrasel, mais de dois terços (64%) dos negócios não obtiveram lucro. Sendo que 25% registraram prejuízo, 39% ficaram em equilíbrio, e apenas 36% conseguiram lucrar. Além disso, 39% dos empreendimentos têm dívidas em atraso. Desses, 69% devem impostos federais, como parcelas do Simples e imposto de renda; 48% com débitos estaduais; 39% têm parcelas de empréstimos em atraso; e 29% devem encargos trabalhistas.
Para Bretas, a tendência para os próximos meses é o setor continuar com margens bem reprimidas. “A Abrasel precisa encontrar uma solução, pois os empresários estão muito endividados, não só esse setor, mas o varejo em geral. Apesar da economia apresentar sinais de melhora, não estamos vendo o consumidor reagir, com aumento de consumo nos bares e restaurantes”.
“Existe um universo de problemas que só vai conseguir de fato se resolver com a união de classe dos empresários do setor. Acredito que a Abrasel tem um papel importante a desempenhar, que é dialogar com os bancos e o governo federal. Talvez seja o momento de tentar até um programa para ajudar os donos desses estabelecimentos, pelo menos, para superar a crise do endividamento”, finaliza.