Ao analisar dados disponibilizados pelo próprio governo mineiro, por meio da Secretaria de Estado de Saúde, percebe-se com nitidez os enormes desafios do poder público de Minas Gerais neste ano que está apenas começando. Ao ser reeleito, o governador Romeu Zema (Novo) prometeu uma nova dinâmica para atender às grandes demandas da coletividade estadual. Ele poderia começar a difundir as estratégias, com a finalidade de minimizar a fila de 160 mil pessoas aguardando por uma oportunidade de realizar cirurgia eletiva.
Eis que esta constatação não merece ser tratada tão somente como uma promessa de campanha, como se um fato corriqueiro fosse no bojo dos inúmeros discursos e palestras levados às praças públicas e debatidos no pleito eleitoral de 2022. Estamos nos referindo a pessoas à espera de uma oportunidade de se submeter a um procedimento médico de mais complexidade, ensejando cuidar de suas saúdes, cuja fila só aumentou ao longo de dois anos, ou seja, durante o período da pandemia de COVID-19. O tema é relevante, assim, não pode e não deve sofrer qualquer tipo de protelação. A não ser que o discurso do ano passado de levar assuntos como estes a sério não tenha passado de uma balela.
Entre as diversas moléstias elencadas, dos cerca de 160 mil pacientes, e segundo os dados oficiais do ente estadual mineiro, lista-se otorrinolaringologia, neurologia, urologia, cirurgia geral, ortopedia e ginecologia. Em geral, os seus portadores são pessoas humildes e sem planos de saúde, e assim, estão à mercê do Sistema Único de Saúde (SUS).
Enquanto esperam, alguns deles se transformam em vítimas fatais. Os doentes não podem entrar em uma fila que às vezes pode demorar entre seis meses a dois anos para serem encaminhados ao ápice dos cuidados médico-hospitalares. No ano passado, a situação era ainda mais dramática, cujo cronograma de atendimento foi alterado desde os primórdios de 2020 na fase mais aguda da COVID-19, diante de um grande represamento de cirurgias, tanto em Minas como em todo o país.
Para esclarecer melhor, um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), utilizando estimativas do departamento de informática do SUS, constatou que de 2016 a 2020, um milhão de cirurgias deixaram de ser realizadas pelo Sistema. O problema é que essa realidade ficou lá atrás, agora, quem se adapta à nova situação sofre as consequências. Este é o caso da diarista Maria Ivonete Santos. Ela descobriu em maio de 2020 que estava com pedras na vesícula e demorou muito para ser atendida.
Para tentar amenizar a cruel realidade do momento, espera-se um incremento por parte do governo de MG, do programa denominado de “Opera Mais, Minas Gerais”, até porque no fim de janeiro o Ministério da Saúde aprovou em conjunto com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, a criação do Programa Nacional de Redução de Filas de Cirurgia Eletiva, exames complementares e Consultas Especializadas, com orçamento previsto da ordem de R$ 600 milhões, valor destinado a atender as demandas provenientes desse certame.
Como se percebe, o sucesso do trabalho de agendamento das aludidas cirurgias em Minas depende de bom diálogo entre os dirigentes do Palácio Tiradentes e o Ministério da Saúde. Pelo visto, o governo do Estado, de maneira unilateral, ficará vulnerável caso almejasse levar esse assunto a um bom termo. Em nome do bom senso, requisita-se os preceitos da política de boa vizinhança entre Minas/Brasília para o próprio bem dos mineiros, diga-se de passagem.