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Ressocialização tem sido o principal desafio das escolas desde a volta das aulas presenciais

Se as relações sociais dos adultos já foram profundamente alteradas, para as crianças, as mudanças foram infinitamente maiores / Foto: Pixabay

Durante a pandemia da COVID-19, milhões de jovens e crianças no mundo tiveram que deixar de ir às escolas e adotar o formato remoto para as aulas, o que atrapalhou não só na educação, mas também no desenvolvimento do pensamento crítico desses indivíduos, principalmente dos que não possuíam aparelhos eletrônicos para acompanhar as classes e acabaram sendo vítimas da evasão escolar.

Com a volta das aulas presenciais, as escolas, professores e pais tiveram um novo desafio: fazer com que esse retorno fosse acolhedor para esses estudantes. Hoje, já meses após essa volta, alguns jovens ainda apresentam certa dificuldade na socialização. Para debater o assunto, o Edição do Brasil conversou com a diretora pedagógica Ana Paula Yazbek (foto).

Quais foram os principais desafios que os estudantes apresentaram ao voltar para o ensino presencial?
Um grande desafio no retorno ao ensino presencial foi lidar com a maior incidência de conflitos entre as crianças, aumento da ansiedade, comportamento retraído, dificuldades no processo de ressocialização e a manutenção do foco e da concentração dentro da sala de aula para realização das atividades.

É importante a presença de psicólogos e pedagogos na equipe da escola para ajudar a lidar com a ressocialização nesse caso?
É interessante seguir buscando as melhores maneiras de cuidar e educar as crianças, valorizando seus interesses e percepções de mundo num ambiente de afeto, rico em estímulos e comprometido com suas aprendizagens. É essencial a presença de profissionais qualificados e que gostem do que estão fazendo para que as crianças tenham o melhor acolhimento nesse momento que pode ser de estranheza, após os quase 2 anos em casa.

O que os pais podem fazer para preparar melhor as crianças para esse retorno?
O retorno já aconteceu há mais de um ano e, com isso, as escolas buscaram o estabelecimento de uma parceria com as famílias para garantir um melhor acolhimento e recebimento dos alunos no espaço educacional.

Como a escola e os professores vão oferecer um retorno mais acolhedor?
O acolhimento se deu na criação de ambientes convidativos e aconchegantes, respeito ao tempo das crianças em aceitar o espaço e as dinâmicas e oferecimento de uma rotina que garantisse o bem-estar físico e emocional. É necessário mostrar aos alunos que a escola é, acima de tudo, um espaço voltado para interação e coletividade e que ela não precisa se retrair ao encontrar outros estudantes.

O período da pandemia afetou drasticamente o desenvolvimento educacional desses alunos?
Infelizmente sim. Vivemos num país em que a desigualdade de oportunidades são gritantes e, com isso, muitas crianças que ficaram fora da escola entre 2020 e 2021 foram impactadas negativamente em seus processos de aprendizagem, principalmente as que não tinham estrutura para acompanhar aulas on-line.

Quais atividades podem ser propostas para lidar com problemas como ansiedade, pânico ou agressividade por parte dos jovens?
Lidar com os aspectos emocionais das crianças é extremamente complexo, as escolas precisam reconhecer que as relações interpessoais são um conteúdo curricular tão relevante como as áreas do conhecimento. Conversas sobre relacionamentos, assembleias, organização de ações comunitárias estão entre as práticas possíveis, mas esse deve ser um trabalho contínuo e transdisciplinar de todo e qualquer projeto educativo.