Fui convidado a participar de um evento com palestrantes de renome. Um professor subiu ao palco para fazer a sua apresentação e a sua primeira fala saudando a plateia foi dirigida a “todos, todas e todes…”, seguido de um mal disfarçado sorriso. O sentimento que tive é que pegou a todos de surpresa, causando até um certo mal-estar. Tanto que, no intervalo, o assunto girou sobre a indevida saudação e ninguém comentou sobre o conteúdo da apresentação. No início do ano letivo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicou uma cartilha de boas vindas aos novos estudantes, nomeados na capa, em destaque, “Caloures”, ao invés de Calouros e Calouras, como nos anos anteriores.
Ainda outro dia, durante um almoço de família em casa, não me lembro do assunto que conversávamos, falei a palavra índio. A minha neta, adolescente, chamou a minha atenção por estar incorreto pois a sua professora de Português disse que agora o certo é falar indígena em lugar de índio. Fui atrás de informação e vi que o significado de índio é que ou quem é originário de um grupo indígena.
Diz ainda que reforça um estereótipo de que todos os povos indígenas são iguais e que a palavra índio é preconceituosa, passando a idéia de que o indígena é selvagem e um ser do passado, um bugre. Indígena é um tratamento mais respeitoso.
Segundo a Professora de Português Cintia Chagas o nome atual é dialeto não binário, que são aqueles que não se identificam com o gênero masculino e nem com o feminino. Eles criaram um dialeto, um modo de falar, porque querem se sentir incluídos. Não se sabe ao certo de onde saiu exatamente, mas o que se sabe é que é utilizado, defendido apenas pelos não binários, por alguns professores universitários militantes, por uma questão ideológica, por algumas empresas que fazem marketing de lacração.
Esta linguagem de gênero prejudica o aprendizado, é uma esquizofrenia linguística. É uma aberração pseudo-inclusiva, não inclui ninguém. Veio somente para complicar a vida de quem foi educado da maneira correta. Já existe um projeto na Câmara Federal proibindo o uso desta linguagem nas salas de aula. Explica ainda que no latim, tivemos o gênero neutro com combinação em U. Na passagem para o português o que era neutro virou masculino e passou a compreender o gênero neutro. Quando dizemos boa-noite a todos, já estamos falando boa-noite a todos e a todas. Insistir em incluir todas é uma redundância. Colocar ainda a terminação em E é uma grande bobagem, é arbitrário, é agressivo.
E aí nós começamos a analisar o que estão tentando fazer com a nossa língua materna. Corro o risco de ser chamado de desrespeitoso ao colocar porque não faz diferença nenhuma mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos para ser “neutre”. Em português, a vogal temática na maioria das vezes não define gênero. Gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra. Vejamos alguns exemplos: O motorista. Termina em A e não é feminino. O poeta, também termina em A e não é feminino. Ação, depressão, impressão, ficção, todas terminam em ção e são femininas, embora terminem com O. Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos quanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, alerta, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradável, etc. Terminar uma palavra com E não faz com ela seja neutra. A alface, termina em E e é feminino. O elefante, termina em E e é masculino.
Como o gênero em português é determinado muito mais pelos artigos do que pelas vogais temáticas, se vocês querem uma língua neutra, precisam criar um artigo neutro, não encher um texto de X, @ e E. E mesmo que fosse o caso. O português não aceita gênero neutro. Teriam que mudar um idioma inteiro para combater o “preconceito”. Em vez de insistir tanto na questão do gênero, entendam de uma vez por todas que gênero não existe, é uma coisa socialmente construída. Entendam ainda que gênero linguístico, gênero literário, gênero musical, são coisas totalmente diferentes de “gênero”. Não faz absolutamente nenhuma diferença mudar gêneros de palavras. Isso não torna o mundo mais acolhedor. E mais, tirem o dedo da tela, parem da falar bobagem e se engajem em algo que realmente faça a diferença para melhorar o mundo, ao invés de ficarem arrumando discussões sem sentido.
Tenham atitude (palavra que termina em E e é feminina). Parem de ficar militando no sofá (palavra que termina em A e é masculina). A língua portuguesa merece o nosso respeito.
*Roberto Luciano Fortes Fagundes
Engenheiro; Presidente da Federação de C&VB-MG; VP do Brasil C&VB; VP da FEDERAMINAS; Presidente do Conselho do Instituto Sustentar; Sócio-diretor da CLAN Turismo – roberto@clan.com.br