Os bolsonaristas mais radicais esperavam um discurso e uma atitude mais contundente do presidente da República, Jair Bolsonaro, no 7 de setembro. Segundo os jornalistas políticos, o chefe da nação aumentou apenas o tom de voz, mas sua fala foi uma espécie de mais do mesmo, ou seja, ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), tendo como foco o ministro Alexandre de Moraes. Na análise dos comunicadores foi acrescentado ainda que, no ato público de São Paulo, a exposição do presidente não durou 20 minutos, com repetição de frases de efeito que tinham como finalidade manter os seus seguidores conectados nas redes sociais.
Para o historiador Marco Antonio Villa, os mais radicais esperavam pela a presença das Forças Armadas, mas como isto não aconteceu, pode ter havido frustração por parte de milhares de seguidores de Bolsonaro que foram às ruas.
Sobre o tema, o filósofo Luiz Felipe Pondé disse que o grupo bosonarista foi eficiente na mobilização, mas, por questões de equilíbrio, o discurso proferido pelo seu líder poupou, de certa forma, o Congresso Nacional para mirar exclusivamente no Judiciário. Talvez, isso explique a decepção de muitos apoiadores, especialmente os mais exaltados.
Minas em silêncio
Embora tenha tido manifestações de lideranças empresariais mineiras, depois do evento, o silêncio tomou conta dos representantes do setor produtivo mineiro. A mesma discrição foi observada em relação ao governador Romeu Zema (Novo). Ele se declara aliado ao presidente da República, mas diante de uma eminente crise institucional, preferiu “se fechar em copas”.
O nome do deputado federal mais votado de Minas e ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), ficou à margem dos acontecimentos. Ele não emitiu qualquer opinião, antes ou depois das manifestações.
Como presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), esteve vigilante 24 horas para, em seguida, deixar claro a sua discordância quanto ao discurso do radicalismo. Segundo ele, há necessidade de se baixar o tom e procurar o caminho do diálogo sem arroubos
Especialistas de diferentes matizes consideram que a direção a ser seguida por Bolsonaro, a partir de agora, será tortuoso, pois partidos de porte médio, como PSDB, devem caminhar para a oposição. Por outro lado, a tendência é que os seus apoiadores, especialmente na Câmara Federal e que fazem parte do denominado centrão, suguem tudo que for possível do governo. Isso deve ocorrer por meio de canalização de verbas para suas bases, nomeações, facilitações para liberação de emendas parlamentares, etc. Os representantes deste segmento estão com os “dentes afiados” para fazer o poder público sangrar, mesmo sabendo das dificuldades financeiras enfrentadas pelo Tesouro Nacional diante da crise sanitária.
O deputado Rogério Correia (PT) chegou a ser irônico: “A partir das cenas recentes, podemos dizer que será instalado um governo parlamentarista informal do Brasil, cujos mandantes efetivos dos atos vão ser os parlamentares do centrão”.
A semana terminou com poucos posicionamentos sobre o assunto também no âmbito da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Alguns deputados ouvidos informalmente pela nossa reportagem preferiram não se pronunciarem, mesmo porque, alguns entendem que, para preservar as forças institucionais vigentes, a abertura de um diálogo mais franco se torna imperativo.