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Após 16 anos, Roberto Simões deixa a presidência da Faemg

Presente na instituição desde 1978, o atual presidente termina seu mandato deixando um legado formado por 386 Sindicatos Rurais | Foto: Faemg / Divulgação

Roberto Simões | Foto: Wenderson Araujo

Chega ao fim a atuação do mestre em Economia Rural, Roberto Simões, à frente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). Presente na instituição desde 1978, quando chefiou o Departamento de Estudos Econômicos, o atual presidente termina seu mandato deixando um legado formado por 386 Sindicatos Rurais, que atendem mais de 700 municípios mineiros, além de 400 mil pequenos, médios e grandes produtos representados pelo Sistema Faemg.

Fora sua atuação na federação, Simões é vice-presidente executivo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Representa o setor agropecuário no conselho do Sebrae Minas, tendo presidido o colegiado entre 2006 e 2010 e de 2019 até os dias atuais. Ao Edição do Brasil, ele fez uma análise de sua carreira, bem como do setor estadual e nacional do agronegócio

Como você resume seu trabalho à frente da Faemg por todo esse tempo?

O nosso trabalho foi sempre no sentido de procurar modernizar o Sistema Faemg a fim de prestar os melhores serviços aos nossos Sindicatos Rurais. E que eles, por sua vez, preparem conosco nossos produtores e trabalhadores. Fizemos uma integração perfeita das três entidades que compõem o nosso Sistema – Faemg, Senar e Inaes (Instituto Antonio Ernesto de Salvo) – e modernizamos toda a nossa estrutura, com uma reforma administrativa e matriz de funcionamento moderna. Assim, as entidades podem trabalhar, cada uma em seu campo de expertise, em conjunto e sintonia com o objetivo final de desenvolver o agro mineiro.

Como o setor do agronegócio se encontra atualmente?

Continua vigoroso, diversificado e produzindo muito e com grande qualidade. Não tivemos interrupção de produção, não desabastecemos o nosso estado nem deixamos de exportar durante a pandemia. Cumprimos as nossas metas. Principalmente o Senar, que cumpriu 90% do que era previsto antes da pandemia, enquanto outros estados alcançaram apenas 30%. Não paramos e enfrentamos as dificuldades seguindo todos os protocolos de segurança. Tivemos prejuízos no início, mas continuamos cumprindo nossa missão a contento

Quais são suas expectativas para o segmento daqui para frente?

São boas! Sabemos que as projeções até 2050 indicam uma população de mais de 10 bilhões de habitantes. E é esperada grande participação de países como o Brasil – e de Minas Gerais, por consequência –, uma vez que são raros os lugares onde ainda é possível ter um crescimento de produção. Será preciso, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), um crescimento mínimo de 40%, acima do que já se produz hoje globalmente, o que é muito.

Acredito que continuaremos crescendo, com grande sustentabilidade. Podemos expandir, sem desmatar, porque temos áreas de pastagens degradadas, que podem ser bem aproveitadas na produção de alimentos e grãos. A demanda por áreas de pastagem está diminuindo, em função do avanço de tecnologias disponíveis e que exigem menos área para manutenção ou aumento de produção dos produtos da pecuária. Então, temos essas possibilidades de crescer e um mercado muito promissor.

Como Minas Gerais tem se posicionado no cenário nacional?

Nosso estado tem uma posição tradicional, uma agricultura sólida e, sobretudo, muito diversificada. Passamos dos antigos 9% da produção nacional para um patamar atual de 13% do total produzido no país.

Quais têm sido os principais produtos produzidos aqui?

Entre os principais produtos do agro mineiro, destacamos o café (mais de 53% da produção brasileira sai de lavouras mineiras). Muito importantes também são o leite e seus derivados (mantemos há anos a liderança nacional, com mais de 28% da produção do país). Temos o terceiro maior rebanho bovino nacional (mais de 20 milhões de cabeças). Somos líderes em reflorestamento (1,8 milhão de hectares de florestas plantadas). E possuímos ainda um forte e variado segmento de hortifrútis, com altíssima produção. Conseguimos manter, portanto, a balança de pagamento sempre positiva para o nosso estado e para o país.

Estamos vivendo a iminência de uma crise hídrica, como isso poderá afetar o segmento?

Já tivemos queda, principalmente na cadeia produtiva do café, com a falta de chuvas e problemas com geadas. As produções de hortaliças e frutas, de grãos, também têm sido muito prejudicadas. Com certeza, teremos declínio na próxima safra. E isso se reflete nos custos e, por consequência, no preço dos produtos. Teremos ainda forte elevação nas tarifas de transporte, energia, insumos, fertilizantes e defensivos. Os preços dos alimentos no Brasil são considerados altos porque estamos mesmo é com deficiência de renda. A renda média hoje é equivalente a dos anos de 2012, 2013. Está aí o grande problema, porque, se compararmos nossos valores aos praticados nos mercados internacionais, temos no Brasil a produção de alimentos mais barata do mundo. E continuamos, portanto, abastecendo o país com produtos de qualidade. Isso nunca nos faltará, porque estamos cumprindo muito bem nossa missão de produzir alimentos, fibras e energia renovável.