Número equivale a 35% das cédulas e moedas produzidas
Uma análise feita pela Sled, fintech de soluções tecnológicas para o varejo, baseada em dados do Banco Central (BC), apontou que mais de R$ 1,4 bilhão em dinheiro físico está fora de circulação no Brasil. O número representa cerca de 35% das cédulas e moedas produzidas pela instituição. Por conta disso, o BC determinou, no último semestre de 2020, a impressão de mais de R$ 437,9 milhões em dinheiro em espécie para endossar as mais de 6,27 bilhões de cédulas que circulam pelo país.
O professor de economia e finanças Cleyton Izidoro atribui esse cenário ao fato de muitas pessoas estarem fora do sistema bancário, principalmente na pandemia, uma vez que o governo teve dificuldades em cadastrar algumas para receber o auxílio. “Outro fator é o cultural. Muitos brasileiros têm o hábito de fazer pequenas movimentações em dinheiro vivo e guardam um montante em casa para as despesas do dia a dia”.
O especialista acrescenta que a não circulação do dinheiro pode impactar de forma negativa, uma vez que interrompe o ciclo econômico. “Com o dinheiro girando, aumenta a circulação. A partir disso, cria-se uma demanda por mão de obra e, automaticamente, mais pessoas são empregadas. Com a geração de emprego, teremos mais brasileiros recebendo salário e, consequentemente, mais consumindo”.
De acordo com Izidoro, é inegável que o ideal seria manter o dinheiro no banco ou fazer algum investimento. “Em casa, ele perde valor, justamente, pelo próprio processo inflacionário. Contudo, o lado positivo é que querendo ou não a pessoa está guardando”.
Foi exatamente esse hábito que “salvou” a esteticista Bruna Souza quando seu carro deu defeito e o mecânico cobrou R$ 3 mil para fazer os reparos necessários. “Se conseguisse pagar à vista, teria um desconto de R$ 400. Pensei em pegar emprestado no banco, tanto pelo desconto, quanto pelo fato de não ter cartão de crédito com esse limite para parcelar. Foi aí que me lembrei dos dois porquinhos de porcelana que eu já tinha há pelo menos 8 anos. Para minha surpresa, havia juntado R$ 2.100. Confesso que nunca imaginei que teria esse valor todo. Por isso, valeu a pena ter guardado dinheiro neles, mas acredito que se estivesse no banco ou aplicado teria rendido mais”.
Para ele, guardar dinheiro vem de um processo educacional. “Ter esse bem equacionado às suas despesas, saber que elas estão próximas e adequadas a sua receita é o primeiro ponto. Sendo hábito, a pessoa começa a fazer isso nem que seja em uma caderneta de poupança. Posteriormente, ela pode trabalhar em outros fundos e aplicações mais estruturados, como a renda fixa, variável, ações e produtos que podem ser atribuídos. Contudo, é um processo onde é preciso ler sobre e estudar o perfil de cada um”.
Incentivo
Segundo o doutor em políticas públicas, Gustavo Oliveira, é preciso incentivo por parte do poder público e das empresas para a mudança desse cenário. “Essa motivação e uma política monetária convincente são essenciais para dar segurança à sociedade”.
Para ele, um exemplo são iniciativas como a do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), autor do PL 4068/2020. De acordo com Oliveira, as atividades ilícitas tais como a corrupção, lavagem de dinheiro e o tráfico de drogas, crimes como assaltos a bancos, sequestros-relâmpago, falsificação de notas ou mesmo arrombamentos de caixas eletrônicos seriam eliminados, porque toda transação financeira poderia ser controlada e/ou rastreada.
O especialista acrescenta que uma das formas de não deixar o entesouramento afetar o mercado é motivar e instigar os clientes a utilizarem métodos eletrônicos e digitais para o pagamento das mercadorias. “Pode-se fazer isso por meio de campanhas, envolvendo a conscientização ou promovendo o uso de formatos eletrônicos, como o cartão de crédito. Além dele, outros meios de transação financeira, como o próprio PIX”.