Sem uma rotina de exercícios regulares e diagnosticada com reumatismo há 7 anos, Rosália Costa, 49, sofre com a chegada das temperaturas mais baixas. “É sempre um sofrimento muito grande, principalmente, de manhã ao acordar e no final do dia, quando vou descansar do trabalho”, conta a empregada doméstica. Rosália não é a única e não é coincidência que durante o inverno suas dores nas juntas aumentem. Apesar dos idosos se queixarem mais desse incômodo, as articulações tendem a ficar mais sensíveis e doloridas em pessoas de qualquer idade. Para evitar isso, é necessário alguns cuidados e também saber diferenciar uma dor ocasional de uma que requer atendimento médico.
O ortopedista e chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Juiz de Fora, Samuel Lopes, explica que, primeiro, é preciso entender que dores articulares são quaisquer problemas nas juntas. “Pode ser no ombro, joelho, quadril, tornozelo, punhos, etc. A origem pode ser de diversas causas, entre elas, as mais comuns são artrose, artrite, doenças reumatológicas, históricos de lesões traumáticas e fraturas”, esclarece.
Segundo o especialista, o motivo mais comum para os desconfortos articulares no frio é que, naturalmente, nos movimentamos menos nesta estação. “Se deve, em primeiro lugar, pela razão de ficarmos mais parados, imóveis e contraídos. Com isso, a musculatura também fica mais enrijecida e a articulação acaba sentindo essa rigidez, o que gera mais dor”.
O fato de estarmos vivenciando uma crise sanitária, em que uma das principais recomendações para conter o número de casos de COVID-19 é ficar em casa, piora este cenário. “O inverno, por si só, já leva muitas pessoas a ficarem mais quietas, o que gera mais rigidez articular. Na pandemia, vivemos um momento de menor estímulo no dia a dia, diminuição da prática de atividades físicas e até exercícios cotidianos como caminhadas. A movimentação ajuda na lubrificação articular, pois promove uma melhora da produção de líquido sinovial, fluido que fica no interior das articulações e ajuda a protegê-las. Pessoas que se exercitam menos tendem a perder massa muscular, o que gera mais sobrecarga sobre as articulações, sendo os joelhos um dos locais que mais sofre. Isso sem falarmos da possibilidade de ganho de peso”, ressalta o especialista.
Mais duas razões podem ser investigadas pelos médicos se a piora dessas dores insistir. A primeira é a modificação da viscosidade e espessura do líquido sinovial. A segunda são as possíveis alterações de circulação. “Mãos e pés, que compõem a circulação periférica, são os locais que mais sofrem com essas mudanças e isso vai gerar mais dor. Uma situação específica que pode aparecer em alguns pacientes nos dias frios é o fenômeno de Raynaud, que acomete especialmente mãos e pés, levando à vasoconstrição (estreitamento dos vasos sanguíneos) e à menor disponibilidade de sangue para a periferia, podendo gerar sensação de dormência ou dor. Ela pode aparecer em 5 a 20% das pessoas e seu diagnóstico é realizado pelo médico. Normalmente, o tratamento é feito por medidas não medicamentosas”, diz.
Em casos em que a persistência e a intensidade das dores se agravam, o diagnóstico é clínico e deve ser feito por um ortopedista, reumatologista, geriatra ou clínico geral. “O médico, ao avaliar o paciente, deverá fazer uma análise do padrão de dor na articulação, como local, tempo de duração, pesquisar algum fator precipitante e elaborar um estudo detalhado de doenças que podem ser causadoras de dores nas articulações, tais como doenças reumatológicas, quadros degenerativos como artrose, passado de alguma lesão ou trauma articular, dentre outros”, afirma.