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43% das crianças brasileiras sofrem bullying, segundo a ONU

Sinais como irritabilidade, tristeza e ansiedade devem acender o alerta nos pais | Foto: Unsplash

Uma pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que 43% das crianças brasileiras são vítimas de bullying infantil. A análise ainda aponta que metade delas e dos jovens de todo o mundo já sofreram com a violência por inúmeros fatores, como aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem.

A psicóloga comportamental Renata Borja explica que o bullying é uma prática agressiva, recorrente e com um alvo específico. “Ele se apresenta por meio de falas, ações, intimidação, deboche, depreciação ou ironias que vão promover na pessoa atacada sensações de desconforto, incômodo e, principalmente, humilhação”.

A psicóloga infantil Alice Munguba comenta que é preciso orientar a criança a conviver com as diferenças. “Quanto mais ela aprende isso, melhor saberá lidar com distintos padrões estéticos, culturais e religiosos de nossa sociedade. Essas coisas são ensinadas na infância por meio da fala aberta e direta. Os pais e responsáveis devem mostrar para a criança que palavras depreciativas e ações excludentes afetam as emoções de outra pessoa, trazendo como consequência muita tristeza”, afirma.

Ela acrescenta que a criança que é vítima do bullying começa a duvidar de suas capacidades, qualidades e singularidades diante das constantes críticas. “Ela pode ter dificuldades em ter autoconfiança, resistência a novas relações e autoimagem deturpada”.

Foi o que aconteceu com o filho da auxiliar de faturamento Daniela Aguiar. Ela conta que a porta para o bullying que ele sofria foi o fato de ele ter orelhas proeminentes, popularmente conhecidas como de abano. “Não era um problema para mim, nem para meu marido e muito menos para ele. Contudo, quando ele entrou na escola, com 7 anos, as ‘brincadeiras’ de péssimo gosto começaram. Ele adorava ir para o colégio, depois de um tempo ficou desanimado e, por fim, tinha crises nervosas, chorava e não queria ir de jeito nenhum. Foi quando percebemos que tinha algo muito errado acontecendo. Procuramos a escola e a professora relatou os episódios que ele vinha sofrendo”.

Daniela conversou com seu filho e decidiu procurar ajuda psicológica, pois viu que ele estava muito abalado. “Foi um caminho longo, ele ficou triste, dizia que não queria mais ser feio, sendo que sempre foi uma criança linda e extremamente educada. O trocamos de instituição, mas ele manteve o medo de ir e ser zoado novamente. Por fim, eu e meu marido decidimos buscar a otoplastia para corrigir as orelhas dele. Foi uma decisão difícil de ser tomada, mas meu filho se sentiu mais feliz com ela”.

A psicanalista Cinara Cordeiro indica que, assim como fez Daniela, os pais devem investigar as causas da mudança de comportamento das crianças. “A resistência de ir a determinados locais e desinteresse pela escola são sinais. Além disso, é importante estar atento a machucados e hematomas, isolamento dos amigos, uniforme ou material escolar danificados, tristeza e choro sem motivo aparente, baixa autoestima, irritabilidade e dores de cabeça ou de barriga”.

Cinara diz que a vítima pode ter inúmeras consequências. “A agressão fere a autoestima, dificulta o aprendizado e a socialização, traz ansiedade, medo e, em alguns casos, a depressão. Neste sentido, o acompanhamento psicológico é importante, pois o processo irá ressignificar a violência sofrida. Esse profissional também irá orientar os pais a lidarem com toda a situação, o que é essencial para que a criança se recupere dos traumas”, conclui.