Em tempos de pandemia e isolamento social, a recomendação das autoridades de saúde é clara: fique em casa ao máximo. Mas, para isso, muitas das tarefas precisam ser feitas on-line, o que exige uma internet de qualidade, no entanto, isso no Brasil é um privilégio. É o que mostra a pesquisa TIC Domicílios 2019, lançada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
De acordo com o levantamento, o país conta com 134 milhões de usuários de internet, o que representa 74% da população com 10 anos ou mais. Apesar do aumento significativo nos últimos anos na proporção de acesso à web, um em cada quatro brasileiros, um grupo de 47 milhões de pessoas ainda permanece desconectado.
Ainda segundo o material, o celular é o principal dispositivo para acessar a rede, usado por quase a totalidade dos usuários (99%). Para alguns, o aparelho é uma das opções, mas para 58% dos brasileiros o telefone móvel é a única forma de acesso, essa proporção chega a 85% na classe D e E. O uso exclusivo do telefone também predomina entre a população preta (65%) e parda (61%), frente a 51% dos cidadãos brancos.
Como explica Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, embora o crescimento do número de usuários seja significativo nos últimos anos, ainda é preciso avançar. “Num momento em que o isolamento social se apresenta como medida de combate à COVID-19, esse quadro passa a ser dramático para muitas famílias, especialmente a população de baixa renda, nas classes D e E há quase 26 milhões (43%) de não usuários. Isso significa que mais de 20 milhões de casas não possuem conexão à internet. Esta realidade afeta, principalmente, domicílios da região Nordeste (35%) e de famílias com renda de até 1 salário mínimo (45%). Esse é um grande desafio que temos pela frente para reduzir e, até mesmo, eliminar na questão da desigualdade”, afirma.
Outro ponto relevante do estudo é que, pelo quarto ano seguido, houve queda da presença de computadores nos lares brasileiros. “Enquanto quase a totalidade (95%) dos domicílios da classe A possui o equipamento, ele está presente em apenas 44% da classe C e 14% das classes D e E”, destaca Barbosa.
Para o especialista, a falta de acesso à web e o uso apenas por celular, majoritariamente, pelas famílias de classes com menores rendas e das cores preta e parda evidenciam a imensa desigualdade digital que persiste no Brasil.
Ele acrescenta que com a pandemia, milhões de brasileiros passaram a depender ainda mais da internet e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para atividades como trabalho remoto, ensino a distância, comércio eletrônico e até mesmo para acessar o auxílio emergencial do governo. “A falta de conexão à internet e seu uso exclusivamente por celular, especialmente nas classes D e E, evidenciam ainda mais as desigualdades digitais presentes no país, e apresentam desafios relevantes para a efetividade das políticas públicas de enfrentamento da pandemia. Esse uso desigual da rede afeta os potenciais benefícios e as oportunidades oferecidas pela internet, podendo contribuir para a manutenção ou mesmo a ampliação de diferenças sociais”, conclui.